Negócios
CEO conta como Sephora se consolidou no Brasil


Andrea Orcioli, CEO da Sephora, construiu toda a sua carreira na indústria da beleza, com passagens pela Avon e Unilever
Andrea Orcioli soube que seria CEO quando sua então chefe, Flávia Bittencourt, avisou que iria assumir a Adidas no Brasil e deixaria seu cargo na Sephora para ela. “Estava pronta, mas fiquei me perguntando como iria substituir aquela pessoa que eu e toda a empresa admirávamos”, lembra a executiva.
As duas foram a Paris para a despedida de Flávia na empresa, que faz parte do grupo LVMH, dono de outras grandes marcas de luxo, como Louis Vuitton e Dior. Conversando com um alto executivo do grupo, Chris de Lapuente, Andrea compartilhou sua insegurança. “Na carreira, ninguém substitui ninguém. Cada um tem a sua trajetória. Você não vai substituí-la, vai continuar o seu caminho”, ouviu dele.
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Essa simples frase trouxe a energia de que ela precisava para de fato assumir a posição. “Pude voltar a dormir”, brinca a executiva, que ampliou os negócios da empresa no Brasil, hoje o terceiro maior mercado mundial de beleza, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Andrea construiu sua carreira toda nessa indústria. Começou como estagiária na Avon, durante a faculdade de comunicação social. Passou pela Unilever, na área de cabelos, e voltou para a Avon, onde ficou por mais de 10 anos e cuidou da empresa na América Latina. “Sou louca por beleza desde que fui bailarina”, diz ela, que chegou a considerar seguir carreira na dança.
Clima de startup
Há quase 10 anos na Sephora, Andrea entrou no final de 2014, liderando as áreas de marketing e merchandising. “Foi um diferencial para eu assumir como CEO porque estava envolvida em toda a estratégia e o futuro da Sephora Brasil”, diz. A executiva chegou apenas um ano e meio depois da abertura da primeira loja no Brasil, “Foi uma experiência de startup porque apesar de ser a maior rede de beleza do mundo, estava apenas começando aqui.”
Hoje, a companhia está em outro momento, com 36 lojas espalhadas pelo país. Este ano, já abriu 2, e deve chegar a 4. “Já é uma empresa bastante estruturada e com crescimento acelerado”, diz a executiva, que é otimista em relação ao Brasil.
Em pleno 2020, já em meio à pandemia da Covid-19, a empresa abriu duas lojas no país e lançou a Fenty, marca de maquiagem da Rihanna. Andrea havia assumido a liderança da Sephora no Brasil meses antes, no final de 2019. No início da sua gestão, viu as lojas serem fechadas e os funcionários – e também os consumidores – indo para casa. “Trabalhamos muito com o global e conseguimos ter crescimento em 2020.”
Em 2023, o grupo LVMH teve lucro de € 22,8 bilhões. A divisão que inclui a Sephora, além da DFS e Le Bon Marché, alcançou € 17,9 bilhões em receita e teve aumento de 76% nos lucros. Segundo o grupo, a varejista de beleza teve “mais um ano recorde de receita e lucro”.
Leia também:
- “Não tinha certeza de que estava preparada, mas fui mesmo assim”, diz economista-chefe do JP Morgan
- “Agarro com muita força as oportunidades”, diz diretora da NTT Data
Mercado de beleza brasileiro
Andrea credita o avanço da empresa – dentro e fora do Brasil, apesar de não divulgar números locais – à curadoria de marcas no portfólio da Sephora e ao clima de experimentação da companhia. “Ela já foi concebida, em 1970, com um caráter de inovação”, diz. Antes de a Sephora disponibilizar os produtos para os clientes testarem na loja, o padrão era deixar atrás do balcão.
Foi a primeira a lançar a MAC no Brasil e outras grandes marcas vendidas apenas por lá, como Nars, Drunk Elephant e Fenty Beauty. Três anos depois de desembarcar em solo brasileiro, começou a comercializar a primeira marca nacional, Feito Brasil. Hoje, Bruna Tavares, Mari Maria, Mariana Saad, entre outras, também estão no portfólio. “Como não olhar o mercado do Brasil que é um dos maiores mercados do mundo e tem, sim, muitas marcas de qualidade?”
Tecnologia no negócio
A filial brasileira também acompanha as inovações tecnológicas da empresa globalmente. A Sephora Brasil acaba de lançar um novo aplicativo, com promoções diárias, pré-lançamentos e brindes exclusivos, para levar a experiência das lojas físicas para o smartphone. “A tecnologia é fundamental para qualquer business hoje”, diz Andrea, que começa seu dia checando o app. Logo depois, entra nas redes da Sephora para ler os comentários e “ouvir os consumidores”. “Eu venho do marketing e tinha um momento que a gente precisava ir até o cliente para escutar o que ele precisava. Hoje, está tudo disponível online.”
A executiva também observa um movimento global, e que chegou ao Brasil, do boom da empresa em plataformas como o TikTok, onde influenciadores mostram suas compras, da Sephora e de outras lojas. “Quando é um movimento orgânico, demonstra o quanto a marca é amada”, diz. É também uma questão geracional, observa Andrea, e que está levando meninas muito jovens a consumir produtos de beleza.
Não dá para ter tudo
Além das pesquisas online, que dão insights sobre quais marcas os brasileiros querem na Sephora, a executiva também circula pelas lojas físicas, ouvindo funcionários e consumidores. Essa vontade de estar na ponta vem da sua primeira experiência profissional, como vendedora de loja de shopping. “Sou bastante conectada. Estou em todo lugar ao mesmo tempo.”
Hoje, com mais de 20 anos de carreira, reconhece que não é possível ter tudo. “Amo ser CEO, mas só consigo porque tenho apoio”, diz. Mãe de dois, chegou a perder o aniversário dos filhos por estar em uma viagem internacional a trabalho. “Mas hoje, ouvir do meu filho de 20 anos que ele tem orgulho de mim e quer ser como eu recompensa todas as escolhas que eu fiz, e que acho que foram corretas.”
A trajetória de Andrea Orcioli, CEO da Sephora no Brasil
Primeiro cargo de liderança
“Iniciei minha carreira como líder na Sephora como vice-presidente Latam de marketing e merchandising.”
Quem me ajudou
“A Flávia Bittencourt era minha chefe, uma líder absolutamente incrível, super aspiracional, uma pessoa realmente que todos admiravam. E um dia ela me chamou e me avisou que iria para a Adidas e que eu assumiria o lugar dela. Foi um momento bastante difícil para mim, porque eu realmente admirava muito a Flávia como líder, foi difícil aceitar que ela estava saindo. E a outra dificuldade foi entender como iria substituí-la. Eu fiquei muito insegura, mas um dos líderes da Sephora na época me deu um conselho que mudou tudo. Ele disse que eu não iria substituí-la, mas simplesmente continuar o meu caminho como liderança, com um olhar novo. Foi a partir daí que assumi de verdade e comecei a trazer a liderança da Andréa para a Sephora.”
Turning point
“Penso em dois grandes desafios na minha carreira. O primeiro foi quando eu assumi como CEO, com a missão de expandir as lojas físicas da Sephora no Brasil. Decidimos reestruturar o negócio e direcionar grande parte dos investimentos para tecnologia e pessoas, para que conseguíssemos dar esse passo. Deu certo e estamos em um momento super positivo, com abertura de cerca de cinco lojas por ano. O segundo desafio foi a pandemia. Eu tinha acabado de assumir a presidência, fazia menos de um ano. Senti uma grande pressão, porque me sentia responsável por manter o emprego de todos os colaboradores, naquele momento difícil em que não sabíamos exatamente o que aconteceria. Foi um aprendizado enorme, e com muita resiliência e o trabalho incansável do nosso time, conseguimos atravessar esse momento.”
O que ainda quero fazer
“Pretendo continuar evoluindo na minha carreira, buscando novas possibilidades de crescimento e aprendizagem.”
Causas que abraço
“Trabalhar com beleza é fascinante devido às múltiplas causas envolvidas, como a diversidade de gênero e a liberdade de expressão. A beleza se manifesta na forma como as pessoas se mostram e se expressam. Na Sephora, colaboramos para promover essa diversidade por meio de produtos, campanhas e eventos. Um exemplo é o projeto Classes for Confidence, que realiza workshops de maquiagem para apoiar grupos minorizados, como mulheres negras e em tratamento oncológico, visando resgatar sua autoconfiança. Na minha gestão, também fui responsável por aprovar a área de Diversidade e Inclusão, que começou em 2023. A partir da criação da área, a Sephora vem treinando e capacitando líderes e colaboradores, assim como todos os funcionários das lojas, com o objetivo de que todos os clientes se sintam confortáveis e acolhidos em nossos espaços.”
Veja outras executivas do Minha Jornada
Quinzenalmente, a Forbes publica a coluna Minha Jornada, contando histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso.
O post CEO conta como Sephora se consolidou no Brasil apareceu primeiro em Forbes Brasil.
Powered by WPeMatico
Negócios
Por Que Conhecidos Impulsionam Sua Carreira Mais do Que Amigos Próximos

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Quando você pensa em relacionamentos, conexões ou pessoas importantes na sua vida, provavelmente lembra primeiro dos mais próximos: seus melhores amigos, familiares, parceiro ou até mentores.
Esses vínculos costumam ser sinônimo de amor e apoio, além de influenciarem seus hábitos e te ajudarem a atravessar momentos difíceis.
Mas o que nem sempre é reconhecido é o poder das pessoas com quem você não tem tanta proximidade. Pense naquele colega da faculdade que você encontra a cada poucos anos, o ex-colega de trabalho que te enviou um link de uma vaga de emprego ou alguém que você encontrou uma única vez na festa de um amigo. Esse tipo de relação é o que chamamos de “laços fracos”.
Essencialmente, são conexões que existem fora do seu círculo central. Você provavelmente não fala com elas com frequência, mas elas formam a camada externa do seu mundo social.
Um estudo clássico e amplamente conhecido chamado The Strength of Weak Ties (A Força dos Laços Fracos), conduzido pelo sociólogo Mark Granovetter, mostrou que as pessoas frequentemente descobrem vagas e oportunidades de vida e carreira não por meio dos amigos próximos, mas por meio de conhecidos.
Isso acontece porque os laços fracos circulam em ambientes diferentes dos seus. Eles trazem novas perspectivas e oportunidades que você não encontraria dentro da sua bolha habitual. E é justamente essa camada externa que pode contribuir para o seu crescimento muito mais do que você imagina.
A seguir, três maneiras como seus laços fracos impulsionam o seu desenvolvimento.
1. Laços fracos abrem portas para novas oportunidades
No estudo de 1973, Granovetter entrevistou 280 profissionais e descobriu que quase 84% das pessoas conseguiram empregos por meio de alguém com quem não tinham grande proximidade, muitas vezes alguém que viam ocasionalmente ou com quem não falavam havia meses.
Seus laços fortes costumam circular nos mesmos ambientes que você. Embora sejam fontes confiáveis de apoio emocional, também podem, sem querer, te manter preso às mesmas ideias e redes.
Já os laços fracos funcionam como pontes para ecossistemas sociais totalmente novos. Essas conexões mais soltas geralmente trabalham em setores diferentes e vêm de contextos variados.
Essa ideia foi testada novamente em um estudo experimental de 2022, conduzido pelo LinkedIn, MIT e Stanford, publicado na revista Science. Os pesquisadores analisaram como diferentes tipos de conexões influenciavam a busca por novas oportunidades profissionais.
Usando o algoritmo “Pessoas que você talvez conheça”, do LinkedIn, eles variaram aleatoriamente a frequência com que laços fracos ou fortes eram recomendados a diferentes usuários. Depois, monitoraram quais conexões resultavam em mudanças reais de emprego.
A conclusão: laços moderadamente fracos – como conhecidos distantes – eram mais eficazes para gerar oportunidades do que laços fortes, como amigos próximos ou familiares.
Mas nem todos os laços fracos são igualmente úteis. Aqueles que eram fracos, mas não tanto, tiveram o maior impacto. A força da conexão foi medida pelo número de contatos em comum e pela frequência de interação.
Ou seja: expandir sua rede além do seu círculo principal pode abrir portas inesperadas. Os “laços fracos certos” podem ser os catalisadores mais poderosos para novas oportunidades.
2. Ampliam sua perspectiva
As pessoas mais próximas de você são, muito provavelmente, seu porto seguro. Elas trazem conforto e afinidade. Mas, às vezes, essa semelhança pode limitar a expansão da sua visão de mundo.
É difícil perceber quando seu círculo íntimo se transforma numa espécie de câmara de eco, onde você raramente é desafiado a questionar suas ideias, expandir sua forma de pensar ou considerar novas perspectivas. E isso pode limitar seu crescimento pessoal, intelectual e até profissional.
Laços fracos, por outro lado, podem oferecer informações únicas simplesmente por circularem em ambientes sociais, culturais ou profissionais diferentes dos seus. Eles têm acesso a ideias, experiências e recursos que você normalmente não encontra.
Uma conversa casual com um conhecido pode te apresentar uma nova visão, te indicar uma vaga ou te fazer refletir sobre algo de forma diferente. É nesse território desconhecido que o crescimento acontece.
Um experimento realizado pelo Facebook em 2012, apresentado na 21ª Conferência Internacional World Wide Web, investigou o papel das redes sociais na disseminação de informações. Analisando 253 milhões de usuários, os pesquisadores compararam a força de laços fortes e fracos.
O resultado: laços fortes tinham mais influência individual, mas laços fracos, pela quantidade e diversidade, eram responsáveis por espalhar a maior parte das informações novas.
Isso torna os laços fracos essenciais não apenas para oportunidades profissionais, mas para o crescimento intelectual e o pensamento criativo.
3. Aumentam sua sensação de pertencimento
Amigos íntimos e familiares oferecem apoio emocional profundo e formam a base do seu círculo social. Mas justamente por serem tão próximos, esses relacionamentos carregam expectativas implícitas e responsabilidades emocionais.
Já coisas simples, como uma conversa rápida com um vizinho ou um cumprimento no elevador, podem ser surpreendentemente revigorantes, justamente por serem leves e sem carga emocional.
Pesquisas publicadas na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin mostraram que estudantes universitários se sentiam mais felizes e conectados em dias nos quais interagiam com mais colegas do que o habitual, mesmo que essas interações fossem rápidas e superficiais.
Outros estudos também revelaram que pessoas que conversam mais com figuras periféricas da sua rede social relatam maior senso de pertencimento e bem-estar.
É impossível subestimar o poder de pequenos gestos de cordialidade com conhecidos. Essas interações cotidianas formam uma rede de conexões sutis, mas significativas, que muitas vezes rendem frutos de maneiras inesperadas.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.
O post Por Que Conhecidos Impulsionam Sua Carreira Mais do Que Amigos Próximos apareceu primeiro em Forbes Brasil.
Powered by WPeMatico
Negócios
Ex-Tenista Profissional, CEO da Lacoste Já Foi Patrocinado pela Marca

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
A Lacoste, redundante dizer, segue sendo uma marca aspiracional, associada desde sempre a esportes de elite. Mais recentemente, no entanto, com a ajuda de ídolos de estilos musicais jovens, como o funk e o trap, a grife decidiu ampliar seu público.
Na América Latina, esse desafio está nas mãos de Pedro Zannoni, 49 anos, CEO da marca para a região desde 2020 e um dos destaques da lista Forbes Melhores CEOs do Brasil 2025.
Assim como René Lacoste, fundador da marca, Pedro também é ex-tenista profissional (aos 17 anos, era patrocinado pela própria Lacoste), tendo deixado as quadras por conta de uma debacle financeira familiar. Formado em direito pela Unip, com mestrado em administração pela Faap e especializado em General Management na Wharton School – University of Pennsylvania, ele passou por Wilson, Puma e Adidas, entre outras, antes de trocar a presidência da Asics Latam pelo mesmo cargo na Lacoste, cinco anos atrás.
Desde então, Pedro soube entender as demandas dos países latinos sem perder de vista o respeito ao legado da marca. “Meu papel é garantir a essência da rica história da Lacoste e ao mesmo tempo inovar, trazer novas categorias e novas formas de conexão com o consumidor. Cada mercado tem sua particularidade e sua cultura. A sensibilidade regional faz muita diferença nessa conexão.”
“Não adianta pensar grande se você não tem claro como vai executar. A gente tem de entregar.”
Sobre a estratégia ligada à música, a Lacoste e Pedro até adotaram o apelido Lalá em algumas lojas e criaram uma casa temporária em São Paulo com esse nome no aniversário de 90 anos da marca, em 2023. Ali os funkeiros fãs do “croco”, o crocodilo do logotipo, puderam se apresentar em pocket shows.
Diferentemente daqueles artistas, Pedro não faz o tipo “marrento”, ao contrário. É ele mesmo quem vem ao hall do escritório receber o repórter da Forbes. E, apesar de ter triplicado a receita da marca na América Latina em cinco anos, mercado “tricky”, cheio de reviravoltas difíceis até mesmo de imaginar, quanto mais de prever, ele faz questão de dividir os créditos, enfatizando o esforço coletivo no lugar do mérito individual. “Nada disso acontece sem gente”, diz.
Essa é uma das lições do esporte que ele tira; outra, a disciplina; mais uma, a capacidade de atuar sob pressão e jamais perder o foco; e, muito importante, a de saber equilibrar estratégia com execução. “Não adianta pensar grande se você não tem claro como vai executar. A gente tem de entregar.” Para ele, em suma, um executivo pode ser considerado um “atleta corporativo”: “Sem preparação adequada, estudo constante e cuidado com o corpo e a mente, os resultados não aparecem”.
Reportagem original publicada na edição 134 da Forbes, lançada em setembro de 2025.
O post Ex-Tenista Profissional, CEO da Lacoste Já Foi Patrocinado pela Marca apareceu primeiro em Forbes Brasil.
Powered by WPeMatico
Negócios
“Diversidade É o Motor da Inovação”, Diz Executiva da L’Oréal

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Márcia Silveira, head de diversidade e inclusão para Advocacy e Influence do Grupo L’Oréal, aprendeu em casa que o melhor caminho para crescer, na vida e na carreira, seria a educação. “Nunca deixei de ser a pessoa negra que estava entrando na sala; ainda somos subjugados”, diz a jornalista de formação, com MBA na IE University Business School, na Espanha, e formação executiva na NYU. “Mas trazer esse cabedal educacional e estar sempre com fatos e dados à mão, para que meu discurso fosse bem embasado, foi o que me fez evoluir nessa trajetória.”
Sua jornada é prova do poder da representatividade: foi cursar jornalismo inspirada em Glória Maria. No mundo corporativo, levou uma década para ter o primeiro líder negro. Sem referências de executivas, Márcia trilhou um caminho que hoje serve de exemplo para as novas gerações. “Sinto orgulho, mas posso dizer que tenho aprendido muito mais do que ofereço”, diz ela, que é mentora e membro do grupo de afinidade racial da gigante de beleza, onde é chamada de Baobá – árvore milenar africana, conhecida como a “árvore da vida”.
Na L’Oréal há quatro anos, entrou para liderar a comunicação de marcas de luxo e hoje está à frente do marketing de influência com foco em diversidade. No Brasil, a companhia tem 53% de mulheres e 25% de pessoas negras na liderança. No mercado, a realidade é outra: Márcia está entre os 8% de profissionais autodeclarados pretos e pardos que ocupam cargos de liderança no país, segundo uma pesquisa de 2024 realizada com duas mil pessoas pelas consultorias Indique uma Preta e Cloo.
Quando se trata de mulheres negras na alta gestão, são apenas 3% em posições de diretoria, mostram dados de um levantamento do Mover (Movimento pela Equidade Racial), organização que promove a equidade racial no setor privado por meio de uma coalizão empresarial. “Nunca foi fácil. Se a gente olhar 200 anos atrás, não estaria aqui. O meu presente é muito próximo do passado das minhas gerações que foram escravizadas.”
Em um momento em que grandes companhias têm voltado atrás em suas políticas de diversidade, a executiva reforça a necessidade de manter a estratégia no centro do negócio. “Desde que a L’Oréal começou a tratar de diversidade, há cinco anos, nós crescemos em duplo dígito”, afirma. “É o motor da inovação.”
“Para mim, a diversidade é um caminho sem volta. Para quem quer inovar nos negócios, ampliar mercado e gerar confiança com o consumidor, essa atenção ao que é certo só aumenta.”
A seguir, confira os destaques da entrevista com Márcia Silveira, head de DE&I Advocacy da L’Oréal
Como líder de diversidade, como tem acompanhado a evolução desse tema no Brasil nos últimos anos?
Durante a pandemia e no pós-pandemia, muitas empresas aderiram a ações de diversidade. Era um caminho novo e as pessoas ainda não sabiam direito como pavimentar essas estratégias dentro dos negócios.
As empresas que conseguiram fazer um bom caminho nesse início estão conseguindo sustentar, mesmo com algumas quedas que vêm acontecendo ao longo do tempo, muito por conta de como a sociedade tem se ajeitado nesses últimos dois anos.
Você enxerga um retrocesso?
Vemos um movimento de queda nas políticas de diversidade em outras empresas. É perceptível em todo o mercado, e é algo que a gente deve observar e acompanhar com atenção para não deixar essa influência acontecer conosco.
Na L’Oréal, o compromisso segue firme. Desde que a empresa começou a tratar de diversidade, há cinco anos, nós crescemos em duplo dígito. Isso mostra que diversidade também é uma estratégia que faz o ponteiro girar para cima.
No médio e longo prazo, como você enxerga o cenário da diversidade e inclusão no ambiente corporativo?
Costumo ver o copo pelo lado mais cheio. Todos esses aprendizados que estamos tendo formam uma base estratégica para que as pessoas que acreditam na diversidade continuem avançando.
Nunca foi fácil. Se a gente olhar 200 anos atrás, não teria a Marcinha aqui sentada na L’Oréal. O meu presente é muito próximo do meu passado – das minhas gerações que foram escravizadas. Muitas pessoas vieram antes pavimentando esse caminho. Meus próprios pais tiveram a chance de serem concursados e de ter uma base forte nas empresas em que trabalharam, por meio de provas e certificações, mas também enfrentaram suas necessidades e dificuldades.
Qual a relação entre diversidade e inovação?
Toda inovação sofre abalos e resistências, mas acredito que as pessoas estão ficando cada vez mais formadas e letradas. Estamos tendo muito mais participação e visibilidade nos meios de comunicação, além de políticas de inclusão. Com essas ferramentas, teremos pessoas cada vez mais fortalecidas para seguir com a diversidade. Para mim, é um caminho sem volta.
Para quem quer inovar nos negócios, ampliar mercado, gerar confiança com o consumidor, essa atenção ao que é certo só aumenta. Ter uma boa reputação diante dos consumidores é muito forte, e as empresas que praticam diversidade têm isso, tanto com suas populações internas quanto com consumidores, com o ecossistema e todos os stakeholders que fazem o negócio acontecer.
Você tem observado mudanças geracionais em torno desse tema?
Vim de uma geração que não passou por cotas, então não tive essa comunidade negra que hoje eles formaram dentro das universidades. Eles já chegam aqui nas empresas mais fortalecidos e trocam entre si. Esse comportamento corporativo vem mais forte, porque eles têm com quem trocar.
Essa geração ainda precisa de um pouco mais de resiliência, porque estamos vivendo um momento instável. Mas, por outro lado, eles têm esse poder de serem autênticos e de conseguirem ser ouvidos dentro de um espaço de poder. Isso é sensacional. Talvez não seja a realidade de muitas empresas, mas aqui sentimos essa troca genuína acontecendo.
Tenho o prazer de mentorar algumas meninas em outras instituições e é muito nítido ver que elas trazem situações que eu não teria enfrentado da mesma forma se estivesse na idade delas. Penso: “Nossa, que coragem!”
Tipo dizer “não”, saber o limite de uma situação, dentro dessa locomotiva que são os negócios, impor e colocar uma barreira, isso é de uma maturidade muito grande. E eu bato palma.
Como o time de diversidade trabalha dentro da L’Oréal?
Hoje temos mais de 20 profissionais trabalhando pela diversidade. É um time espalhado por todas as áreas e todos os sites e locações onde existe L’Oréal no Brasil. Dentro desse ecossistema, precisamos ter pessoas que saibam do que estão falando.
A estratégia do Grupo L’Oréal começou lá atrás, primeiro populando, depois educando, letrando, fazendo com que as pessoas interajam, para então conseguir promover inclusão. E não só inclusão, mas segurança psicológica, para que essas pessoas, no final, consigam contribuir para o negócio.
E qual o impacto da diversidade como estratégia de negócio?
Quando temos times diversos, temos estratégias e soluções muito mais inteligentes. Costumo dizer que, quando estamos numa sala de reunião com pessoas diversas, a sala é a pessoa mais inteligente.
Diversidade é o motor da inovação. Se um negócio não tem diversidade, fatalmente estará suscetível aos acontecimentos do futuro. Ele não consegue se tornar sustentável. Tivemos provas disso ao longo do tempo. Vimos, por exemplo, na pandemia: de repente, todo mundo estava dentro de um problema, perdendo muito. E é justamente nesses momentos que a pluralidade é essencial para gerar ideias e saídas para situações difíceis que os negócios enfrentam. Ninguém está livre disso.
O que as lideranças devem fazer para ampliar os acessos dentro das empresas?
Toda transformação cultural e ligada à inovação exige estratégia e resiliência. Os profissionais que estão atuando nessas áreas precisam ter uma influência estratégica fundamental e estar sempre muito colados ao negócio.
Diversidade não existe sem investimento, e o negócio também não quer investir em algo que não entende. Por isso, é necessário ter ações muito estrategicamente conectadas à necessidade daquele negócio.
A diversidade vem cada vez mais forte, com profissionais altamente experientes atuando nos negócios, que sabem orientar as empresas para que essa nova estratégia de ação e de fortalecimento possa durar. E para que o negócio seja mais economicamente sustentável ao longo do tempo.
Para as empresas que querem ampliar a diversidade, qual a melhor estratégia?
Para uma empresa começar uma estratégia de diversidade, o RH é o passo inicial. É preciso fazer um diagnóstico: entender e medir o quanto você está sendo diverso ou não. Comparar a população brasileira com a sua população interna, observar quem toma decisões dentro da empresa e avaliar se essas pessoas estão bem distribuídas.
Por exemplo, aqui na L’Oréal, hoje estamos com 53% de mulheres em cargos de liderança. E, no recorte racial, 45% dos nossos colaboradores são pessoas negras, e 25% delas estão em cargos de liderança. Esse compromisso é muito guiado pelo Mover, o movimento pela equidade racial, que fará uma aferição total desses compromissos em 2030.
Quando a gente olha para o dado nacional, que mostra que apenas 6% das lideranças no Brasil são pessoas negras, isso reforça ainda mais a importância do que estamos construindo aqui. Esses números mostram nossa fortaleza interna, porque conseguimos ver pessoas diversas atuando em todas as hierarquias do negócio.
Você é formada em jornalismo. Por que buscou essa carreira?
Trabalhar com comunicação foi um sonho de infância, muito ligado a situações de racismo que eu vivia na escola. A diretora entendeu que punir os alunos não estava dando certo, então resolveu fazer uma ação intencional: me tornou uma líder da escola, dando o grêmio para eu dirigir. Eu tinha um jornalzinho do grêmio e com 12 anos comecei a fazer algo que nunca tinha feito. Ali descobri que era isso que eu queria para a minha vida: ser jornalista. Passei por aquela fase de admirar a Glória Maria. Tive essa referência, mas também outras repórteres.
Como foi o início da sua carreira na área da comunicação?
Comecei como assessora de imprensa no esporte. Depois, decidi migrar para negócios. Busquei me aprimorar nos estudos, fiz pós-graduação e comecei a trabalhar com comunicação empresarial, para então entrar no setor de beleza.
Trabalhei em uma startup carioca de beleza que nasceu no Rio, mas se expandiu pelo Brasil e internacionalmente. Fui representar a marca em Nova York, cuidar da cadeira de marketing e comunicação onde essa rede de salões se expandiu. Fiquei um ano e meio tocando esse negócio. Quando voltei ao Brasil, fui trabalhar no Sistema B, uma entidade de sustentabilidade.
Como tem sido sua jornada na L’Oréal nos últimos quatro anos?
Era um grande sonho trabalhar na L’Oréal, e foi uma evolução dentro do mercado em que eu já estava. Já tinha 11 anos de experiência no setor de beleza. Minha porta de entrada foi trabalhar com marcas de luxo. Fiquei quase um ano nessa função até surgir a oportunidade de liderar a área de diversidade no Brasil. Agora, estou liderando os projetos de diversidade dentro da área de advocacy, que trata justamente de uma das frentes do marketing que mais tem contribuído para o negócio, que é a creators economy.
Na prática, como funciona esse trabalho com projetos de diversidade?
Faço a gestão de uma única agência de influência, que é a Spark. Minha função é gerir essa agência para as 22 marcas da companhia. Faço essa interface. Também tenho a função de gerir as metas de diversidade. A companhia inteira tem metas relacionadas à contratação de criadores de conteúdo diversos. A gente olha para perfis de diversidade e contabiliza isso na contratação. Por exemplo, fechamos o ano de 2024 batendo a meta: mais de 50% dos perfis contratados foram diversos.
Qual você diria que foi seu diferencial para chegar onde está hoje?
Venho de uma família com muitos líderes, pessoas que cresceram por meio da educação. A maioria dos meus familiares é concursada, tem um nível educacional alto, e comigo não foi diferente. A gente teve essa vantagem social: eu tive a oportunidade de estudar em escolas fora do Brasil, fiz meu MBA na Espanha, numa escola de negócios, e também pude aperfeiçoar minha educação executiva na NYU, quando morei em Nova York.
A educação sempre foi uma forma de diferenciação. Claro que eu nunca deixei de ser a pessoa negra que estava entrando na sala, e isso faz toda a diferença, porque a gente ainda é subjugada. Trazer esse cabedal educacional e estar sempre com fatos e dados à mão, para que meu discurso fosse bem embasado, foi o que me fez evoluir nessa trajetória.
Você buscou e encontrou apoio em outras mulheres nesse caminho?
O Conselheira 101, curso de formação para conselheiras negras, é a minha referência mais recente de um grupo forte onde eu posso me apoiar como uma mulher negra de negócios. Ali eu encontrei mentoras muito potentes. Quando entrei na L’Oréal, fiz o curso, fui da turma 3. É um processo seletivo árduo, difícil. Também tenho pares que se tornaram amigas, com quem realmente troco sobre necessidades e desafios para avançar no negócio. Fiz muito networking para chegar aqui, mas não é um lugar de descanso. Não é um “cheguei lá”. Então eu preciso dessa formação contínua. Isso me acompanha desde o início: estar no negócio, estar na academia e aprender a rodar junto.
Assim como a Glória Maria foi sua inspiração no jornalismo, quando entrou no mundo corporativo, encontrou referências?
As minhas referências só foram surgir quase dez anos depois de formada, quando tive a oportunidade de ter líderes negros. A partir daí, consegui galgar mais status, chegar a cargos de diretoria, fazer com que minhas atitudes fossem bem medidas e ranqueadas dentro de uma corporação. Foi nesse momento que os líderes começaram a surgir para mim, e passei também a buscar referências internacionais no mercado.
Mas, no início, minhas referências vieram muito da minha família, do que eu via em casa. Aquela conversa de domingo: “E aí, vai prestar vestibular pra quê?”. Era esse o tipo de diálogo desde muito jovem. Meus pais estavam sempre olhando para educação e investindo nisso. Minha mãe, por exemplo, sempre dizia: “O saber morre com o dono”. Isso sempre me fez buscar mais.
Você também é mãe solo. Como isso influenciou sua forma de encarar o trabalho?
Sou mãe solo desde que minha filha tinha dois anos – hoje ela tem 14. Ela acompanhou todo o meu crescimento profissional: viagens, mudanças, demandas. Quando morei fora, nos Estados Unidos, deixei minha filha aqui por seis meses com a minha mãe enquanto ia empreender lá.
É muita responsabilidade, e a gente vive desafios de qualquer executiva: vira a noite trabalhando quando precisa, se aprimora, faz cursos no exterior, às vezes precisa se afastar. Mas tive uma rede que me ajudou, e isso também é um elemento que merece ser valorizado nessa jornada.
O que aprendo hoje no trabalho, principalmente com as novas gerações, estou levando para casa. Porque preciso fazer minha filha, uma menina negra, navegar muito bem nesses ambientes, dentro dessa estrutura que ainda temos.
O post “Diversidade É o Motor da Inovação”, Diz Executiva da L’Oréal apareceu primeiro em Forbes Brasil.
Powered by WPeMatico

Saúde1 semana atrásVariante H5N5 da gripe aviária é registrada pela primeira vez em humano nos EUA

Justiça1 semana atrásSTF forma maioria para tornar Eduardo Bolsonaro réu no tarifaço

Tecnologia1 semana atrásGosta de faroeste e história policial? Conheça as séries e filmes de Taylor Sheridan

Negócios1 semana atrás“Skillcations”: A Tendência de Usar as Férias para Aprender Algo Novo

Justiça1 semana atrásCrime organizado demanda articulação nacional, diz procurador do RJ

Esporte1 semana atrásFlamengo goleia Sport e assume liderança do Brasileirão; Palmeiras é derrotado

Cidades1 semana atrásMacaé lança manual do novo padrão nacional de Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e)

Justiça6 dias atrásSTF publica nesta terça acórdão do julgamento de Bolsonaro


































