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Negócios

Como o barulho nos escritórios está criando um bom mercado

Redação Informe 360

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Chad West trabalha presencialmente em um escritório em Londres não mais do que uma vez por semana. Como vice-presidente de marketing da carteira de criptomoedas inteligente Argent, ele aparece apenas para reuniões estratégicas ou criativas. Quando precisa focar no trabalho, as distrações e o barulho no escritório aberto da empresa o tornam 40% menos produtivo do que em casa, ele estima.

As vozes dos colegas e a música que escapa dos fones atraem sua atenção, e o som dos engenheiros de software batendo nos seus teclados o atrapalha. “Se alguém tem a audácia de atender uma ligação em um escritório pequeno onde as pessoas estão tentando trabalhar, isso me irrita”, diz West, 33 anos.

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Mais de quatro anos depois de a pandemia ter levado a maioria dos trabalhadores do conhecimento a trabalhar de casa, muitos voltaram ao escritório, seja por políticas da empresa, pelo desejo de passar um tempo com os colegas de trabalho ou pela necessidade de fugir da família.

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Cerca de 27% dos dias de trabalho nos EUA foram feitos em casa em maio, uma queda drástica em relação aos cerca de 60% no pico da pandemia, mas acima dos menos de 10% antes da Covid-19.

À medida que as pessoas retornam ao escritório em tempo integral ou parcial, as queixas sobre uma antiga frustração – os ruídos e as distrações – têm aumentado. Os profissionais estão participando de mais reuniões pelo Zoom da mesa do escritório, e muitas vezes falando alto nessas videochamadas. Os chefes incentivam que os dias de trabalho presencial sejam passados ​​“colaborando” e desenvolvendo laços sociais, mas isso aumenta a conversa que ecoa no espaço.

Para agravar o problema, muitas empresas reduziram o tamanho dos seus espaços corporativos já que o local estava sendo menos utilizado. Assim, as salas de conferências e os espaços privados ficam cheios rapidamente.

Ilustração: Philip Smith/Forbes
Ilustração: Philip Smith/Forbes

As distrações no escritório são mais do que um pequeno incômodo: aumentam o estresse e prejudicam os profissionais

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Insatisfação com a barulheira do escritório

Em um estudo de setembro de 2023 realizado pela empresa de pesquisa de ambientes de trabalho Leesman, os níveis de ruído foram classificados entre as 10 características mais importantes do escritório – ficando entre banheiros funcionais e uma central de suporte de TI.

No entanto, apenas cerca de 32% dos funcionários estão satisfeitos com os níveis de ruído no escritório, descobriu outra pesquisa da Leesman (divulgada em abril passado).

Novo mercado

A resposta a todas essas reclamações apresenta uma oportunidade de negócio, com fornecedores vendendo desde cabines no estilo de telefones públicos até serviços de “paisagismo sonoro” que usam uma abordagem “biofílica” para ajudar a abafar vozes com sons encontrados na natureza.

Fabricantes de móveis e designers de interiores estão adicionando mais materiais acústicos e projetando “bibliotecas” para promover ambientes de trabalho silenciosos.

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Alguns empregadores estão distribuindo fones de ouvido com cancelamento de ruído e até mesmo desenvolvendo ferramentas para ajudar os trabalhadores a alertar colegas quando precisam se concentrar. “Se quisermos que os funcionários retornem voluntariamente aos escritórios, temos de proporcionar um espaço que apoie aqueles momentos em que eles necessitam de privacidade acústica e visual”, diz o fundador da Leesman, Tim Oldman.

O problema e a solução do barulho no escritório

As distrações no escritório são mais do que um pequeno incômodo. Um estudo de 2021 publicado no Journal of Management & Organization descobriu que em experimentos com ambientes controlados, os níveis de ruído típicos de escritórios de plano aberto causaram aumentos nos indicadores de estresse fisiológico, como frequências cardíacas mais altas, bem como mais expressões faciais de repulsa e relatos de humor negativo por parte dos trabalhadores.

“Não estamos habituados ao ruído”, observa Libby Sander, professora assistente da Bond University, na Austrália, que trabalhou no estudo. “Temos a ideia de que podemos simplesmente nos acostumar com isso. Mas fisiologicamente e psicologicamente, seu corpo não vai.”

A necessidade de maior controle do ruído nos escritórios é uma das razões para o crescimento de empresas como a finlandesa Framery, um dos maiores fabricantes de cabines de escritório – espaços totalmente fechados e modernos com paredes de vidro, que custam cerca de US$ 8,7 mil (R$ 47,3 mil) por uma unidade compacta. Algumas acomodam até seis pessoas e parecem salas de conferência fechadas.

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Framery

A Framery tem uma nova linha de cabines que possuem um sistema de mascarar o som do ambiente

Em 2022, a receita global da Framery atingiu US$ 164 milhões, acima dos US$ 86 milhões em 2020 e US$ 101 milhões em 2021.

Em março, a empresa adicionou uma nova linha de cabines que não apenas isolam o som para os usuários sentados ali dentro, mas também possuem um sistema de “máscara sonora” que emite um som semelhante a ruído rosa nas áreas ao redor. Assim, aumentam o ruído ambiente nos espaços próximos, com o objetivo de tornar as conversas no escritório menos inteligíveis. “O verdadeiro problema do ruído é quando o seu cérebro capta uma palavra familiar”, diz Samu Hällfors, cofundador e CEO.

Som de pássaros no escritório

É por isso que designers e empreendedores estão colocando som nos espaços, o que pode ser uma forma de resolver as preocupações com muito ruído ou muito silêncio. Depois de trabalhar para terceiros nesse setor por mais de uma década, Evan Benway lançou a Moodsonic em 2022. Ele agora trabalha com empresas como SAP, GSK e Steelcase para criar “paisagens sonoras responsivas” que usam sensores para gerar um som de fundo que se adapta em tempo real ao grau de distração ou estímulo do ambiente.

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A Moodsonic ajuda as empresas a resolver uma das ironias do ambiente de trabalho pós-pandemia: as pessoas se distraem com o som no escritório, mas muitas vezes é porque o espaço está muito silencioso. Em vez de ter 60 pessoas em um salão aberto onde um zumbido de muitas conversas acontece ao fundo, “agora talvez você tenha 15 pessoas, e quando uma fala, todos ouvem o que ela está dizendo”, diz Benway.

Os sensores da Moodsonic captam os níveis de som e ajustam as “paisagens sonoras”, que incluem cantos sutis de pássaros inspirados na natureza ou riachos. Benway não divulga receitas, mas afirma que a empresa trabalha com 30 das 500 maiores empresas dos EUA e já é lucrativa; em seu segundo ano, triplicou a área onde fornece as paisagens sonoras e aumentou as assinaturas em 150%.

Paz no home office

Outros estão tendo sucesso ao atender não apenas a necessidade de privacidade dos trabalhadores no escritório, mas também os desejos semelhantes dos profissionais remotos. O investidor Fred Wilson, cofundador da Union Square Ventures de Nova York, e sua esposa Joanne, uma investidora-anjo, estão lançando a segunda localização do Framework, um espaço de coworking em Nova York. O casal percebeu que nas grandes cidades, empreendedores, criativos e outros profissionais têm pouco espaço próprio e não necessariamente querem estar “em um desses lugares onde há toda essa bagunça compartilhada”, como Joanne descreve, referindo-se a espaços de coworking com assentos em grupo e pouca privacidade.

No primeiro local dos Wilsons, no Brooklyn, os membros pagam entre US$ 755 e US$ 860 por mês, dependendo do prazo do aluguel, por sua própria cabine com isolamento acústico. “É tranquilo e eles não precisam ouvir o vizinho conversando com o amigo ou a esposa ou o que quer que seja”, disse Fred Wilson.

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Designers de móveis e de interiores também estão incorporando mais isolamento acústico nos seus espaços. A Zintra Acoustics, uma linha de painéis de parede, divisórias de espaço e luminárias de teto que ajudam a absorver o som, tem visto uma demanda “crescente” por soluções acústicas, disse Kirsten Grosman, líder de marketing da marca, que é propriedade do Baresque Group, com sede na Austrália. “O ruído se tornou a principal reclamação entre os profissionais”, disse ela.

Ao mesmo tempo, a empresa sueca Ikea, que está no ramo de mobiliário de escritório há 40 anos, está lançando uma nova linha criada em parte para resolver os incômodos sonoros. Por exemplo, adicionou um material de fibra de madeira, normalmente utilizado na indústria de construção para isolamento, a telas acústicas envoltas em tecido. A empresa também trabalhou com fornecedores para silenciar o mecanismo que regula a altura de uma mesa elétrica pressionando um botão. “O papel do escritório mudou”, diz Philip Dilé, desenvolvedor de design de produtos da Ikea. “A maioria das pessoas nos disse que queria voltar [ao escritório] para ter foco e menos distração.”

Ikea

Marcas tradicionais, como a Ikea, estão trabalhando para lidar com problemas de som e ruído no escritório

A nova linha da Ikea é um exemplo de um movimento mais amplo para oferecer soluções que não exigem cabines ou salas privadas, o que sem dúvida anula o propósito de ter pessoas no escritório para colaborar. “Por que eu iria querer entrar em um conjunto de cabines de Zoom, e essa ser minha experiência do dia?”, questiona Tracy Wymer, vice-presidente de insights e inspiração da Teknion, que também fabrica cabines. Wymer observa que sua empresa está trabalhando em um novo produto que fornece dicas visuais que indicam se você está disponível ou focado no trabalho, mas ainda é cedo para oferecer detalhes.

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Outra companhia que está experimentando essa ideia é a monday.com, uma empresa de software de gerenciamento de projetos com sede em Israel. Eles projetaram um dispositivo de Internet das Coisas (IoT) chamado “FocusTime”, posicionado no canto dos monitores dos computadores dos funcionários. Parece um mostrador que indica de quanto tempo restante ininterrupto a pessoa precisa – e serve como um aprimoramento físico dos ícones de status do Slack ou Teams que as pessoas estão acostumadas a ver na tela.

Monday.com
Monday.com

A empresa está testando um dispositivo que indica aos colegas de trabalho quanto tempo de foco eles precisam

A ideia veio originalmente de uma funcionária da empresa que lutava com as interrupções dos colegas ao retornar ao escritório. Saron Paz, líder da equipe que desenvolveu o dispositivo, diz que cerca de 20 funcionários estão participando de um piloto usando o protótipo e um teste em toda a empresa está em fase de planejamento para que, potencialmente, possa se tornar um produto comercializado.

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Profissionais neurodivergentes

Um fator impulsionador da criação de mais espaços para trabalho silencioso tem sido uma maior consciência sobre as necessidades de profissionais neurodivergentes, como aqueles com TDAH ou desafios de processamento sensorial. Pesquisas mostram que 15% a 20% dos funcionários são neurodivergentes, diz Relina Bulchandani, vice-presidente executiva de serviços imobiliários e de local de trabalho da Salesforce. Isso levou a gigante de software a projetar “salas de meditação” no escritório para pausas e espaços de “biblioteca” equipados com telas duplas de monitor solicitadas por engenheiros de software.

As inovações são relevantes para criar um ambiente de trabalho inclusivo e saudável. No entanto, para Chad West, algumas delas não seriam necessárias se todos simplesmente pudessem escolher de onde querem trabalhar. “Tudo o que uma empresa realmente deve se preocupar é com a eficiência.”

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Censo 2022: Nível de Ocupação É Menor Que o Registrado em 2010

Redação Informe 360

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

O nível de ocupação da população brasileira chegou a 53,3% em 2022, de acordo com os dados do Censo. Isso significa que pouco mais da metade das pessoas com 14 anos de idade ou mais estava trabalhando quando a pesquisa foi realizada. A proporção é um pouco menor do que a verificada no Censo anterior, realizado em 2010, quando 55,5% das pessoas a partir desta idade estavam ocupadas.

“Em 2010, a economia estava mais aquecida. Já em 2022, a gente estava saindo da pandemia. Tem um movimento de recuperação em 2022, mas ainda não estava plenamente recuperada a economia”, explica o analista do IBGE João Hallack Neto.

Os dados do Censo relativos a trabalho e rendimentos foram divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e se referem a respostas dadas por cerca de 10% da população, selecionada de forma aleatória para compor uma amostra, que respondeu um questionário mais completo do que as questões básicas aplicadas a todas as pessoas.

Eles mostram ainda que 11,1% dos adolescentes entre 14 e 17 anos já exerciam algum tipo de trabalho no momento da pesquisa. Na outra ponta, 14,9% das pessoas com 65 anos ou mais também trabalhavam.

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Renda

Em contrapartida, os trabalhadores brasileiros recebiam, em 2022, R$ 2.851 por mês, em média, mas 35,3% das pessoas tinha remuneração de, no máximo, 1 salário mínimo, o que na época equivalia a R$1.212. Neste quesito, houve um ligeiro avanço entre os anos, já que a proporção no Censo de 2010 foi 36,4%.

Nas duas edições da pesquisa, a maioria dos trabalhadores recebia entre 1 e 5 salários mínimos, proporção que subiu de 54% para 57%, entre 2010 e 2022. Por outro lado, a parcela de pessoas com rendimentos provenientes do trabalho superiores a 5 salários mínimos caiu, de 9,6% para 7,6%.

Ainda de acordo com o Censo, o rendimento proveniente do trabalho era responsável por 75,5% da renda mensal domiciliar, enquanto fontes como aposentaria, pensão, benefícios de programas sociais do governo e aluguéis correspondiam aos outros 24,5%.

A relação entre o nível educacional e a remuneração também foi comprovada: trabalhadores com ensino superior completo recebiam, em média, R$5.796, cerca de R$3.500 a mais do que quem tinha completado apenas o ensino médio, população com renda média de R$2.291 mensais.

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Trabalho

Algumas mudanças no mercado de trabalho também apareceram na pesquisa. Em 2022, a população ocupada como empregados somou 69,2%, quase 5 pontos percentuais a menos do que em 2010. Já os trabalhadores por conta própria somavam 26,7%, um aumento de mais de 4 pontos na comparação com 2010, quando eles perfaziam 22,4%. Apesar da proporção de empregadores ser bem menor, também houve aumento entre os anos, de 2,1% para 3,3%

Entre os empregados, a maioria atuava no setor privado com carteira assinada, em 2022: 56,3%. Em seguida, vem os trabalhadores sem carteira do setor privado, que somavam 18,5% e os militares e estatutários, 13,7%.

Regiões

A pesquisa também identificou algumas diferenças regionais. Quanto ao nível de ocupação, por exemplo, a média brasileira de 53,3% foi superada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e no Sul, onde foi verificada a maior proporção: 60,3%. Já no Norte e Nordeste, menos da metade da população com mais de 14 anos estava ocupada no momento da pesquisa: 48,4% e 45,6%, respectivamente.

Essa desigualdade também apareceu nos rendimentos obtidos com o trabalho. No Centro-Oeste, essa renda representava 80,6% do total de rendimentos declarados pelos domicílios, 12,8 pontos percentuais a mais do que a proporção de 67,9% verificada no Nordeste. Nas outras três regiões, a relação ficou na casa dos 76%. Já o rendimento médio mensal de todos os trabalhos variou de R$ 2.015 no Nordeste, a R$ 3.292 no Centro-Oeste, ficando em R$ 2.238 na Região Norte, R$ 3.154 na Região Sudeste e R$ 3.190 no Sul.

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“Do total de municípios, 520 deles apresentaram rendimento nominal abaixo de um salário mínimo, enquanto 19 deles possuem um indicador acima de quatro salários mínimos. Ilustrando a desigualdade tão grande que a gente tem disseminada pela história, os 10 municípios com menores rendimentos situavam-se na Região Nordeste. Por outro lado, 10 municípios com maiores rendimentos médios estavam nas regiões Sul e Sudeste”, complementa o analista do IBGE João Hallack Neto.

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Como Brasileira Chegou Ao Topo da Inovação da L’Oréal na América Latina

Redação Informe 360

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Juliana Farias é a primeira brasileira a assumir a diretoria de pesquisa e inovação do grupo L’Oréal na América Latina, cargo que assumiu em julho deste ano. “Descobri o mundo da liderança, no qual me senti muito confortável”, diz ela, que iniciou a carreira como pesquisadora acadêmica. “Surgiram oportunidades para continuar crescendo dentro da empresa e fui construindo minha trajetória.”

À frente de uma equipe de 150 profissionais, em sua maioria cientistas, espalhada entre Brasil e México, Juliana é responsável por conduzir a agenda de inovação da L’oréal na América Latina e garantir que as descobertas feitas aqui cheguem ao mundo. “Somos um mercado efervescente e crucial para categorias como cabelos e fotoproteção”, afirma. “Tudo que inovamos aqui tem potencial de funcionar globalmente.” O Brasil é o quarto maior mercado mundial de beleza e cuidados pessoais.

Formada em engenharia de alimentos pela Unicamp e mestre em alimentos e nutrição pela mesma instituição, Juliana sempre foi apaixonada por ciência e encontrou na academia uma chance de colocar a paixão em prática. “No início, queria estar no laboratório. Trabalhei em projetos de iniciação científica, fiz mestrado e desenvolvi pesquisas”, lembra. “Foi assim que entrei na ciência e me apaixonei pelo campo.”

“Desde o início, sempre gostei de estar em laboratórios e experimentar. Esse foi meu direcionamento natural.”

Após o mestrado, iniciou a carreira profissional na indústria de alimentos, onde se especializou em ciência sensorial – conhecimento que mais tarde aplicaria à indústria de cosméticos. “Entrei para o centro de pesquisa da L’oréal por conta da minha expertise técnica e do meu background sensorial”, conta a executiva paulista, baseada no Rio de Janeiro. “Vim de uma ciência voltada para o consumidor, e isso também ajudou a moldar meu papel de liderança.”

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Com mais de duas décadas de experiência entre academia e indústria, Juliana segue motivada pelo impacto que a ciência brasileira pode ter no mundo. “O que me move é ver o potencial dos talentos brasileiros em pesquisa e como nossa criatividade é reconhecida globalmente”, afirma. “Como a primeira brasileira na minha posição, quero abrir caminho para os próximos.”

A seguir, confira os destaques da entrevista com Juliana Farias, nova diretora de pesquisa e inovação do Grupo L’Oréal na América Latina.

Forbes: Como surgiu a oportunidade de assumir essa posição de diretora?

Juliana Farias: Sempre trabalhei na área de pesquisa e inovação e estou há 14 anos na L’Oréal, no centro de pesquisa no Rio de Janeiro, atendendo o Brasil e a América Latina. Foi um processo de construção: comecei na indústria de alimentos, depois vim para o centro de pesquisa por conta da minha expertise técnica e do meu background sensorial, aplicando essa ciência no setor de cosméticos, que ainda era muito novo nesse ambiente.

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Aqui, descobri não só o mundo dos cosméticos, mas também o da liderança, no qual me senti muito confortável. A partir daí, surgiram oportunidades dentro da empresa para continuar crescendo. Comecei como gerente de equipe em uma área de avaliação de produtos e fui construindo minha trajetória.

O que te destacou para chegar até aqui?

Acredito que, pelo meu conhecimento do mercado de beleza, minha paixão, forma de liderança e o foco da L’Oréal nos mercados emergentes, incluindo a América Latina, houve muita confiança no meu trabalho. Pelo meu engajamento e conhecimento, me foi dada a oportunidade de ser a primeira brasileira e primeira mulher a ocupar essa posição no Brasil.

Na prática, como funciona esse trabalho?

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Meu trabalho é liderar a agenda de inovação, garantindo que as iniciativas saiam do Brasil para o mundo. Somos um dos sete hubs globais de pesquisa e inovação da L’Oréal. O Brasil é um mercado efervescente, o quarto maior do mundo, e crucial para categorias como cabelos e fotoproteção, pois temos consumidores exigentes em um ambiente com altos índices de UV e outros agressores externos.

Tudo que inovamos aqui tem potencial de funcionar globalmente. Meu dia a dia envolve liderar diferentes áreas de desenvolvimento de produtos, garantindo que tenhamos os projetos e talentos certos para gerar inovações de curto, médio e longo prazo que atendam a essas ambições.

Para quem começou a carreira na academia, como foi assumir posições de liderança?

Meu caso é um pouco diferente de muitos líderes de pesquisa e inovação. Muitos vieram dos laboratórios de desenvolvimento, formulação ou ingredientes. Eu vim de uma ciência voltada para o consumidor, a ciência sensorial. Sempre estive centrada na experiência do usuário, e isso naturalmente se refletiu na forma como lidero. Estou próxima da minha equipe, observo suas necessidades e busco desenvolver carreiras.

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Apesar de ter sido muito desenvolvida como líder aqui na L’Oréal, meu foco no usuário e no consumidor, vindo da minha base científica, ajudou a moldar a minha liderança.

Como foi o início da sua carreira?

Desde o começo, fui direcionada para a ciência. Sou formada em engenharia de alimentos pela Unicamp e, logo nos primeiros anos, me interessei pelo trabalho de iniciação científica. Queria estar em um laboratório nos primeiros anos, quando tudo ainda era muito teórico. A professora Helena Bolini me acolheu; ela trabalhava com análise sensorial. A partir desse momento, minha carreira foi moldada. Trabalhei com ela em projetos de iniciação científica, fiz mestrado sob sua orientação e desenvolvemos pesquisas, por exemplo, sobre substituição de açúcar em produtos guiada pela avaliação sensorial.

Foi assim que entrei na ciência e me apaixonei pelo campo. Após o mestrado, minhas primeiras posições na indústria foram na área de avaliação sensorial. Desde o início, sempre gostei de estar no laboratório e experimentar. Esse foi meu direcionamento natural.

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Você continua presente no trabalho de campo?

Continuo, embora cada vez menos dentro do laboratório devido ao meu papel de executiva. Na L’Oréal, seguimos o conceito de ser “poeta e camponês”: o líder precisa ter visão estratégica, mas também estar próximo das equipes, viver o dia a dia.

Quando cheguei à L’Oréal vinda da indústria de alimentos, uma das primeiras ações foi justamente estar no campo com a minha equipe. Liderava um time que incluía cabeleireiros e especialistas capilares, e um dos momentos em que mais aprendia era quando eu estava com eles, observando como nossos produtos se comportavam, ajudando na inovação e, ao mesmo tempo, ouvindo suas necessidades para melhorar processos. Hoje, embora esteja menos no laboratório, minha sala fica ao lado dele, e ainda tenho esses momentos de proximidade com as equipes.

Houve algum momento marcante em sua carreira que te orgulha?

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Um momento muito importante para mim e para a maioria dos pesquisadores do Hub foi dentro da área de Haircare. Hoje, somos líderes de mercado no Brasil e na América Latina com a marca L’Oréal Paris, mas nem sempre foi assim. Alguns anos atrás, enfrentamos momentos de baixa, e um dos pontos-chave de virada veio da nossa pesquisa, quando desenvolvemos a fórmula de um produto de tratamento da Elséve que mudou a história da marca e hoje é líder de mercado para cuidados com cabelo no Brasil.

Esse produto se tornou um marco, pois fomos reconhecidos pelos consumidores e aumentamos a recompra. Foi um caso que misturou minha experiência em avaliação sensorial: decodificamos quais sinais faziam a consumidora perceber que o produto era eficaz. Por exemplo, notamos que a sensação de cabelo “desmaiado” indicava eficácia — algo que, embora pareça simples, foi traduzido cientificamente para orientar a formulação. O resultado foi um dos tratamentos mais potentes da marca, desenvolvido no Brasil, que se tornou um dos condicionadores mais produzidos pelo grupo.

Como você percebeu mudanças na liderança feminina desde o início da sua carreira até hoje?

Me sinto privilegiada, porque sempre tive muitas mulheres como inspiração e líderes em meu campo. Minha primeira orientadora na universidade era mulher, minha primeira líder em outra empresa também, e aqui na L’Oréal tive lideranças masculinas e femininas que me moldaram como profissional.

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Hoje, no campo da ciência, ainda existe desigualdade. Enquanto mais da metade dos cargos de liderança em nosso centro de pesquisa no Brasil são ocupados por mulheres, no cenário científico global cerca de 30% dos cargos de liderança são femininos. Há evolução, mas a equidade ainda não é uma realidade em todos os campos.

O que te move no seu trabalho?

Sempre foi a paixão pela ciência. Aqui na L’Oréal, temos um Hub de pesquisa onde realizamos ciência do zero. O grupo investiu cerca de 1,3 bilhão de euros em pesquisa no ano passado globalmente. O que me motiva é ver o potencial dos talentos brasileiros em pesquisa, sua criatividade e como interagem entre as áreas de forma diferenciada em comparação ao resto do mundo. É muito gratificante perceber que nossa ciência e nossos talentos brasileiros e latino-americanos são cada vez mais reconhecidos globalmente.

Se pudesse voltar no tempo, que conselho daria para si mesma ao começar a carreira?

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Diria para acreditar no que você gosta de fazer. Alinhar suas escolhas ao que realmente te interessa e confiar nesse caminho. Experimente, continue explorando seu percurso e cerque-se de exemplos que te fortalecem. Isso é fundamental, especialmente em ciência e liderança.

Tirando o crachá, quem é a Juliana?

É difícil separar a pessoa do trabalho. Acredito que autenticidade é essencial, então sou a mesma pessoa dentro e fora da empresa. Sou uma mulher brasileira, muito orgulhosa das minhas origens — paulista do interior, mas carioca de coração. Amo viver ao ar livre no Rio de Janeiro. Sou apaixonada por música, boa comida e vinho. Sou casada, mãe de um filho de 11 anos, e divido minhas funções de maternidade com as responsabilidades de esposa, filha, irmã e líder. Sou uma pessoa solar, feliz, estimulada pelo sol, pela luz e pelo ambiente ao meu redor.

A trajetória de Juliana Farias, diretora de pesquisa e inovação do Grupo L’Oréal para Brasil e América Latina

Por quais empresas passou

La Basque, Givaudan e L’Oréal

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Formação

Engenheira de alimentos e mestre em alimentos e nutrição pela Unicamp

Primeiro emprego

Analista de pesquisa sensorial na Givaudan Flavours

Primeiro cargo de liderança

Coordenadora de pesquisa sensorial na Givaudan Flavours

Um hábito essencial na rotina

Tomar meu café da manhã com calma pelas manhãs e usar protetor solar facial diariamente.

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Um livro, podcast ou filme que inspira sua visão de gestão

A série “Chef’s Table”, da Netflix. Acho muito interessante a visão consistente de que vários chefs alcançaram o sucesso dos seus restaurantes, engajamento das equipes e satisfação pessoal quando decidiram inovar, apostando no diferencial da sua cultura e na sustentabilidade regional.

O que te motiva

Inspirar o mundo através da criatividade e ciência brasileiras.

Um conselho de carreira

Cercar-se de pessoas que te complementem e ser claro no que deseja como caminho de carreira.

Tempo de carreira

18 anos no mundo corporativo e 24 anos entre academia e mundo corporativo.

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Musk Nomeia Ex-Banqueiro do Morgan Stanley Como Diretor Financeiro da xAI

Redação Informe 360

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

O bilionário Elon Musk nomeou Anthony Armstrong, ex-banqueiro do Morgan Stanley que o aconselhou na aquisição do X, como novo diretor financeiro de seu grupo de inteligência artificial xAI, informou o Financial Times na segunda-feira (6).

Armstrong vai liderar as operações financeiras da xAI e da plataforma de mídia social X, disse a reportagem, citando várias pessoas familiarizadas com o assunto.

O veterano negociador Armstrong vem trabalhando com a xAI há várias semanas e foi formalmente nomeado diretor financeiro nos últimos dias, disse o jornal.

A xAI e o X não responderam imediatamente a um pedido de comentário da Reuters. Armstrong não pôde ser contatado imediatamente.

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Musk lançou a xAI em 2023 para desafiar o avanço da IA das grandes empresas de tecnologia, acusando os líderes do setor de censura excessiva e padrões de segurança frouxos.

Armstrong também será responsável por conduzir o negócio de mídia social de volta à estabilidade financeira após um êxodo de anunciantes, depois que Musk relaxou seus padrões de moderação de conteúdo.

Como chefe global de fusões e aquisições de tecnologia do Morgan Stanley, Armstrong fez parte da equipe que Musk contratou para gerenciar a compra do Twitter por US$44 bilhões em 2022.

À medida que o acordo financiado pelo Morgan Stanley tomava forma, Armstrong e Musk desenvolveram um relacionamento próximo, de acordo com a reportagem.

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No início deste ano, Armstrong ajudou Musk a supervisionar o Escritório de Gestão de Pessoal durante sua passagem por Washington no Departamento de Eficiência Governamental.

Armstrong substituirá Mike Liberatore como diretor financeiro da xAI. Liberatore deixou a startup de inteligência artificial este ano após conflitos com membros do círculo íntimo de Musk sobre a estrutura corporativa e as metas financeiras, segundo a reportagem do FT.

A conta X de Armstrong agora apresenta o logotipo xAI ao lado de seu nome, indicando sua nova função.

Sua nomeação como diretor financeiro ocorre em meio a uma onda mais ampla de saídas de executivos. Em julho, a presidente-executiva do X, Linda Yaccarino, renunciou e, no verão (do hemisfério norte), Liberatore, da xAI, e o conselheiro-geral Robert Keele também deixaram a empresa.

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Além disso, o diretor financeiro do X, Mahmoud Reza Banki, saiu após menos de um ano no cargo, disse a reportagem do FT.

A xAI está supostamente em discussões para uma nova rodada de financiamento que pode avaliar a empresa em aproximadamente US$200 bilhões, embora os investidores digam que o acordo ainda não foi finalizado, acrescentou a reportagem.

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