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Como eu soube que precisava sair do Instagram

O artigo abaixo, é de uma entrevista dada a coluna de Laura McKowen, do New York Times, reproduzido pelo O Globo, na data desta publicação. Segue!
-Nesse verão, eu recaí.
Não com álcool, do qual fiquei sóbria em 2014, mas com Instagram, rede social que é a droga que escolhi.
Eu prometi cortá-lo em abril e me abster pelo menos até o outono, mas na verdade esperava, se tivesse a força de vontade necessária, que eu conseguisse me manter para sempre fora dele.
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Comecei a usar o Instagram em 2013 para postar sobre o processo de ficar sóbria, e foi um relacionamento de amor e ódio desde o início. Mas sempre pareceu que os benefícios compensavam os custos. Eu fiz contato com pessoas que eu nunca teria conhecido de outra forma, muitas das quais se tornaram grandes amigos e inestimáveis colegas de trabalho. Eu encontrei comunidade e responsabilidade nos primeiros dias instáveis da sobriedade, quando eu precisava desesperadamente, e tinha um lugar para compartilhar o meu trabalho de forma consistente. Eu tinha criado uma “plataforma”, na linguagem do mundo editorial, — um público considerável com contas com o selo azul de verificação — que me permitiu mudar de carreira da publicidade para a escrita, em 2016, e garantir meu primeiro contrato de publicação de um livro em 2018.
Com o tempo, no entanto, eu percebi que o Instagram estava invadindo cada parte do meu dia. Checar o aplicativo era a primeira coisa que eu fazia de manhã e a última à noite. De acordo com o relatório de uso do meu iPhone, eu estava passando cerca de seis horas por dia no app, consumindo milhares de imagens, lendo centenas de comentários e mensagens e me comparando com incontáveis outras pessoas. Quando todo esse tempo online me deixava sobrecarregada, ansiosa e com burn out (o que era frequente), eu me convencia de que precisava continuar pela minha carreira. Sem o Instagram para promover meu trabalho, eu não tinha certeza se conseguiria de fato me sustentar. Eu me preocupava que, se não aparecesse consistentemente nas páginas das pessoas, me tornaria irrelevante.
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Foi apenas uma questão de tempo antes que eu começasse a perceber os paralelos entre a bebida e meu uso do Instagram. “Eu vou entrar nas redes sociais apenas em horários determinados” tornou-se o meu novo “eu vou beber somente nos finais de semana”. Eu tentei encontrar maneiras de tornar o Instagram uma força menos tóxica na minha vida usando um aplicativo de agendamento e deixando de ler os comentários. Mas, toda vez que isso falhava, eu me sentia mais derrotada, impotente e presa. Assim como era com o álcool.
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Na última primavera, eu estava chegando a sete anos milagrosos de sobriedade do álcool, celebrando relacionamentos honestos e significativos, inclusive o com a minha filha de 12 anos. A companhia que comecei durante a pandemia estava apoiando milhares de pessoas em suas jornadas para ficarem sóbrias e parecia que os dias mais sombrios da Covid estavam ficando para trás.
Mas eu não conseguia viver a experiência de nenhum desses presentes porque eu estava muito distraída no Instagram. Eu tinha dificuldade para me concentrar e me lembrar das coisas, e estava sendo atormentada por uma ansiedade constante. Estava tão consumida pela informação no meu feed que não conseguia me focar no trabalho ou em conversas. Minha filha precisava repetir constantemente o que falava, pois eu não estava escutando, mesmo quando ela estava bem na minha frente. Meu namorado me disse que ele estava preocupado com o impacto que isso estava tendo na minha saúde mental. (Recentemente, foi descoberto que o Facebook sabia, e minimizava, o quão tóxico o Instagram é para seus usuários – particularmente para meninas adolescentes).
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O impulso em pegar meu celular e microgerenciar minha persona era constante: postar no horário certo, marcar a pessoa certa, fixar os comentários que apoiavam minhas visualizações, deixar meus próprios comentários espertos e divertidos em outras contas de influenciadores, repostar menções ao meu trabalho com o nível suficiente de falsa modéstia para não parecer grosseira — tudo isso havia se tornado um reflexo tanto quanto coçar uma ferida. Só que essa coceira nunca parava.
Percebi que havia ficado entorpecida com a vida que trabalhei tanto para salvar quando fiquei sóbria.
Então decidi sair.
Eu escrevi um relato detalhado sobre a minha luta e compartilhei com meus seguidores, junto com meu plano. Eu sabia, pela minha experiência com o álcool, que a responsabilização pública era importante. Eu também sabia que precisava sair de vez; moderação não só me demandava uma enorme quantidade de energia, como falhava para mim todas as vezes.
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Nos meses seguintes, eu me senti mais livre, mais leve e mais focada do que nunca. Eu fazia tudo sem a compulsão de capturar, empacotar e postar. Eu ainda sentia ansiedade, porque eu sou uma pessoa ansiosa, mas não estava sofrendo tanto com isso. Eu estava mais produtiva, sim, mas o mais incrível é que eu estava de fato presente com as pessoas que estavam na minha frente.
Eu também fiquei curiosa. O que era especificamente no Instagram que era tão destrutivo para mim?
Percebi que em todo o momento que estava na rede social, eu procurava um objetivo que era impossível de se atingir.
Quando um post ia bem, ou quando eu ganhava um monte de seguidores, eu me sentia ótima por um minuto, mas com a mesma rapidez me sentia pressionada a fazer isso de novo. Se algo era recebido de forma negativa, ou perdia pessoas, eu era consumida pela ansiedade e me sentia obrigada a “consertar” isso. Com o tempo, eu fiz centenas de pequenos ajustes a como e ao que eu postava, editando a mim mesma para conseguir os melhores resultados. Mas não existiam os “melhores” resultados. Não importa o que eu fazia, eu nunca teria seguidores suficientes, aprovação suficiente, sucesso suficiente. Quanto mais eu postava, menos me sentia como a verdadeira eu.
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Nesse sentido, era bem semelhante ao álcool, já que beber também me tornou fundamentalmente desonesta — a pessoa que era enquanto bebia também apresentava uma fachada falsa para o mundo.
— Quando estamos curando uma falsa imagem de nós mesmos, online ou não, nos tornamos alienados de nós mesmos e começamos a não nos sentir reais no mundo, e não ligados à nossa existência — disse a diretora médica da Stanford Addiction Medicine e autora do livro “Nação da Dopamina”, Anna Lembke M.D., em entrevista recente ao meu podcast.
— Isso provoca uma quantidade enorme de ansiedade e disforia, e é um lugar muito perigoso para se estar — acrescentou.
Somos incentivados em uma série de maneiras a representar uma versão falsa de nós nas redes sociais, mas, quando fazemos isso, perdemos algo vital: a habilidade de experienciar a vida no aqui e no agora. E o “aqui e agora” é onde vivem as verdadeiras versões de nós mesmos.
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Minha recaída forneceu uma prova rápida e dolorosa
Era um dia lindo e ensolarado no fim de julho. Minha filha, meu namorado e eu estávamos numas férias muito aguardadas visitando minha mãe no Havaí, depois de não vê-la por mais de um ano. Eu me sentia feliz, e disse a mim mesma que eu simplesmente queria compartilhar aquele sentimento. Eu baixei o Instagram de volta no meu telefone, postei uma selfie com meu novo biquíni vermelho, sorrindo no sol perto da água, e escrevi para os meus 80 mil seguidores que eu tinha uma nova perspectiva. Eu iria usar minha conta para compartilhar felicidade; eu disse que seria somente para mim. Eu queria acreditar que isso era verdade.
Conforme o dia passava, minha ansiedade cresceu enquanto eu checava obsessivamente para ver se tinham curtidas, comentários e novos seguidores. Embora a maioria dos comentários era positiva, eu recebi alguns horríveis que eu tive dificuldade em deixar de lado. Um usuário disse que eu parecia doente mental por ter voltado depois de dizer que estava saindo. Outro questionou se eu estava bebendo de novo. Eu chequei contas que eu não olhava desde que tinha deixado o Instagram — na maioria outros autores que eu me comparava com — e percebi que alguns tinham crescido significativamente, atacando meus piores medos de perder a relevância. Eu tive muita dificuldade para dormir naquela noite, e acordei diversas vezes para checar o aplicativo de novo. Quando eu percebi que centenas de pessoas tinham deixado de me seguir, fiquei com náuseas.
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Eu estava envergonhada por ter voltado atrás na minha palavra publicamente. Estava com vergonha por me importar tanto com os comentários e os seguidores, e, principalmente, por não conseguir lidar com isso da maneira pela qual os outros pareciam conseguir. Eu estava com medo do quão horrível me sentia, era exatamente como no tempo em que eu bebia.
Dessa vez, eu sabia que precisava deixar a rede social de uma vez por todas. Eu deletei a selfie com o biquíni do Instagram e escrevi um texto complementar no meu blog, explicando o que havia acontecido. Como eu aprendi na recuperação, compartilhar a verdade é um antídoto poderoso para ansiedade e vergonha. Recentemente, eu dei o último passo e desativei minha conta.
Quando eu começo a pensar que pode haver uma maneira para eu lidar com a rede social, eu faço o que fazia nos meus primeiros dias de sobriedade do álcool: eu reproduzo os acontecimentos na minha cabeça e me forço a relembrar de forma visceral como eu me senti naquela manhã de férias. Eu sinto o zumbido do medo no meu estômago, o aperto da ansiedade em volta do meu pescoço, o processo infinito de pensamentos negativos e a textura fragmentada da minha atenção. Quando faço isso, lembro que simplesmente não vale a pena.
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Governo avalia viabilidade de o Brasil criar seu próprio GPS

Um grupo de especialistas vai estudar a viabilidade de o Brasil desenvolver seu próprio sistema de geolocalização por satélite, um empreendimento de altíssima complexidade e custo. Formado por representantes de ministérios, da Aeronáutica, de agências e institutos federais e da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil, o grupo técnico deve diagnosticar as eventuais consequências do país depender de sistemas de posicionamento, navegação e tempo controlados por outras nações.
O grupo foi criado no início deste mês, por meio da Resolução nº 33, do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro. Assinada pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Marcos Antonio Amaro dos Santos, a resolução estabelece um prazo de 180 dias, contados a partir de 14 de julho, para que o grupo entregue ao ministro um relatório com suas conclusões e sugestões.
“O grupo ainda está se organizando”, explicou nesta segunda-feira (21), em entrevista à Agência Brasil, Rodrigo Leonardi, diretor de Gestão de Portfólio da Agência Espacial Brasileira (AEB), um dos 14 órgãos e entidades que vão compor o grupo, que poderá convidar representantes de outras instituições aptos a contribuir com os objetivos estratégicos do grupo.
“Vamos procurar entender os gargalos, as dificuldades, os prós e contras de desenvolvermos um sistema destes”, acrescentou Leonardi, destacando a importância dos atuais sistemas de navegação por satélite – dentre os quais, o mais conhecido é o estadunidense GPS (do inglês, Sistema de Posicionamento Global), operado pela Força Espacial dos Estados Unidos.
“No Brasil, historicamente, priorizamos o debate acerca de outros aspectos espaciais, como a necessidade de termos satélites para monitoramento territorial. Agora, vamos discutir se queremos ou não ter nosso próprio sistema de navegação; o investimento necessário para fazê-lo e, se for o caso, a necessidade nacional de ter um sistema global ou um sistema regional, capaz de cobrir todo nosso território. Qualquer que seja o caso, se o país concluir que deve fazer isso, o patamar de investimentos terá que ser muitas vezes maior que o atualmente investido no programa espacial brasileiro”, concluiu Leonardi, admitindo a complexidade da empreitada, que exige capacidade tecnológica para projetar, fabricar e lançar satélites capazes de transmitir, do espaço para a terra, sinais precisos.
Ruído
O grupo técnico foi criado uma semana antes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar que, a partir de 1º de agosto, os produtos brasileiros pagarão uma tarifa de 50% para ingressar em território estadunidense. E duas semanas antes de as redes sociais serem tomadas pelo debate sobre a possibilidade de os Estados Unidos, em caso de uma guerra comercial, desligarem ou restringirem o sinal de seu sistema, o GPS (do inglês, Sistema de Posicionamento Global), para o Brasil.
“Este é um típico caso de ruído surgido nas mídias sociais, capaz de gerar ansiedade. E uma coincidência, porque já vínhamos discutindo o tema há tempos, de maneira que a criação do grupo não teve nenhuma relação com o que aconteceu depois”, afirmou Leonardi.
“Primeiro, porque não houve nenhum comunicado, de nenhuma autoridade norte-americana, sobre a remota possibilidade dos EUA restringirem o uso do GPS no Brasil. Depois porque, mesmo que isso acontecesse – o que seria uma situação muito drástica e improvável – há alternativas ao GPS”, assegurou o diretor da Agência Espacial Brasileira.
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GNSS
Segundo Leonardi, a maioria das pessoas erra ao usar a sigla GPS como sinônimo de GNSS, do inglês Sistema Global de Navegação por Satélite, termo correto para se referir a qualquer conjunto (ou constelação) de satélites usado para fornecer serviços de posicionamento, navegação e temporização global.
“O GPS é o sistema de propriedade dos EUA, mas há outros, globais, como o Glonass [russo]; o Galileo [União Europeia] e o BeiDou [ou BDS], da China. Estes têm cobertura global e podem ser utilizados, inclusive, no e pelo Brasil. E há também algumas nações que possuem sistemas regionais, como a Índia [NavlC] e o Japão [Qzss]”, apontou Leonardi.
“Com isso em mente, é lógico cogitar que, em tese, os EUA poderiam degradar ou até mesmo restringir o sinal de seu GPS para determinadas regiões, mas esta seria uma medida tão drástica que, a meu ver, só se justificaria se a segurança nacional dos EUA estivesse sendo ameaçada”, ponderou o diretor da AEB.
“Primeiro porque as empresas estadunidenses que operam no Brasil, como aplicativos de transporte e de entrega, seriam afetadas. Outras nações também seriam prejudicadas, já que não há como limitar o sinal para todo um território sem afetar países fronteiriços. Fora que isso poderia causar acidentes, por exemplo, na aviação civil, custando vidas, inclusive as de norte-americanos. Para não falar das repercussões comerciais, já que outros países se perguntariam se deveriam continuar confiando no sistema norte-americano ou migrar para outros”, apontou Leonardi.
Multiconstelação
Professor da Universidade de Brasília (UnB), onde coordena o Laboratório de Automação e Robótica (Lara), Geovany Araújo Borges, concorda com a avaliação de que, tecnicamente, os EUA poderiam interromper o sinal do GPS ou mesmo tornar o sistema menos eficaz para uma determinada região, mas não crê que isso venha a ocorrer.
“Se fizessem isso sem aviso prévio, os norte-americanos assumiriam o risco de contrariar seus próprios interesses em território brasileiro”, endossou Borges, acrescentando que boa parte dos sistemas e equipamentos eletrônicos modernos são capazes de receber o sinal de mais de um sistema de geolocalização. De maneira geral, os sinais enviados pelos satélites que integram os diferentes sistemas em operação são captados por receptores embutidos em veículos, aeronaves, espaçonaves, navios, munições guiadas de precisão, aplicativos e telefones celulares, além de equipamentos de monitoramento de uso industrial, civil e militar.
“A maioria dos aparelhos celulares, por exemplo, já é multiconstelação, ou seja, é capaz de receber, automaticamente, o sinal de diferentes sistemas. De forma que, em termos de localização, nossos celulares seguiriam funcionando normalmente se deixássemos de receber o sinal do GPS. A mesma lógica vale para muitos outros sistemas [dependente de serviços de posicionamento, navegação e temporização global]: se o sistema de sincronização for redundante, o impacto será limitado”, disse Borges, defendendo a importância de um país dispor de tecnologias próprias neste setor.
Ele lembra que, independentemente das intenções norte-americanas ou de haver alternativas ao GPS, hoje o Brasil depende de outras nações neste que é um campo estratégico.
“Várias áreas perdem com isso. Não só porque um país independente tem que ter um setor de defesa aeroespacial forte, como porque o desenvolvimento de tecnologias aeroespaciais beneficia outros segmentos, como, por exemplo, a medicina, a indústria e a agropecuária”, comentou o professor, assegurando que o Brasil dispõe de mão de obra qualificada e capacidade de desenvolver, a longo prazo, seu próprio sistema.
“Nosso problema não é RH [recursos humanos]. É dinheiro. Temos pessoal capacitado. A questão é se temos condições de bancar um projeto desta envergadura. Principalmente porque, qualquer coisa neste sentido que comecemos hoje, demorará a vingar. Até mesmo porque alguns países não aceitarão exportar certos componentes essenciais. Então, teremos que, paralelamente, desenvolver nossa indústria de microeletrônica, investir mais em educação básica e assegurar que este projeto seja uma política de Estado. Neste sentido, ainda que tardia, é positiva a criação de um grupo de especialistas para debater o tema”, finalizou Borges.
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Lula emite nota sobre medida dos EUA contra ministros da Suprema Corte

O Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, divulgou uma carta/nota neste sábado(19), em apoio aos ministros do Supremo Tribunal Federal, ao serem atingidos pelo presidente americano Donald Trump. Leia abaixo:
“Minha solidariedade e apoio aos ministros do Supremo Tribunal Federal atingidos por mais uma medida arbitrária e completamente sem fundamento do governo dos Estados Unidos.
A interferência de um país no sistema de Justiça de outro é inaceitável e fere os princípios básicos do respeito e da soberania entre as nações.
Estou certo de que nenhum tipo de intimidação ou ameaça, de quem quer que seja, vai comprometer a mais importante missão dos poderes e instituições nacionais, que é atuar permanentemente na defesa e preservação do Estado Democrático de Direito.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República“
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Adolescentes não têm apoio para lidar com redes sociais, diz pesquisa

Uma pesquisa realizada em abril mostrou que 90% dos brasileiros maiores de 18 anos que têm acesso à internet acreditam que adolescentes não recebem o apoio emocional e social necessário para lidar com o ambiente digital, em especial as redes sociais. Foram ouvidos no levantamento mil brasileiros conectados de todas as regiões e classes sociais, com 18 anos ou mais.
A margem de erro é de 3 pontos percentuais para o total da amostra, considerando um intervalo de confiança de 95%.
Segundo a pesquisa, 9 em cada 10 brasileiros acreditam que os jovens não têm apoio emocional e social suficiente, enquanto 70% defendem a presença de psicólogos nas escolas como caminho essencial para mudar esse cenário.
O levantamento foi realizado pelo Porto Digital, em parceria com a Offerwise, empresa especializada em estudos de mercado na América Latina e no universo hispânico, a partir da repercussão de um seriado que abordou o lado sombrio da juventude imersa no mundo digital e o abismo entre pais e filhos.
Para 57% dos entrevistados, o bullying (agressão intencional e repetitiva, que pode ser verbal, física, psicológica ou social, para intimidar uma pessoa) e violência escolar são um dos principais desafios de saúde mental. Também estão entre os principais desafios atualmente enfrentados pelos jovens a depressão e a ansiedade (48%) e a pressão estética (32%).
Adolescência, série apresentada pela Netflix evidenciou necessidade de colocar a questão em debate, diz Pierre Lucena – Divulgação: Porto Digital
Na avaliação do presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, a série Adolescência, apresentada pela rede de streaming Netflix, colocou em evidência a necessidade de se debater a questão.
“O cuidado com a juventude deve ser um compromisso compartilhado, que envolve escolas, famílias, empresas e governos. Essa pesquisa evidencia que não basta discutir inovação tecnológica – é preciso humanizá-la e colocá-la a serviço da sociedade”, disse. “O futuro da inovação está diretamente ligado à forma como cuidamos dos nossos jovens. Não basta impulsionar avanços tecnológicos — é fundamental criar pontes entre a tecnologia e a transformação social real”, afirmou.
A pesquisa mostra que uma das ferramentas usadas pelos pais é o controle do tempo de navegação na internet. Segundo o estudo, entre crianças de até 12 anos, o controle tende a ser mais rígido e constante, inclusive com o uso de mecanismos de monitoramento. No entanto, apenas 20% dos pais responderam que pretendem usar futuramente alguma ferramenta de controle.
Já entre os adolescentes de 13 a 17 anos, a supervisão tende a diminuir. Os pais ainda acompanham, mas de forma mais flexível, permitindo maior autonomia.
Para o diretor-geral da Offerwise, Julio Calil, o cenário mostra a necessidade de desenvolvimento de espaços de acolhimento e orientação, tanto para os pais quanto para os filhos, como alternativas para proteção no ambiente digital.
“Os resultados da pesquisa nos mostram que a população enxerga a necessidade de um esforço conjunto para criar espaços mais seguros e de apoio nas escolas, especialmente diante do uso precoce e intenso das redes sociais”, apontou.
Plataformas
Recentemente, as principais plataformas digitais modificaram suas regras para restringir ou excluir a moderação de conteúdos publicados na internet, dificultando a identificação de contas ou publicações com conteúdos considerados criminosos.
Professor Luciano Meira defende regulação de plataformas para manter espaço social online saudável para jovens e crianças – Foto: Arquivo pessoal
Para o professor adjunto de psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, Luciano Meira, tal decisão parece priorizar interesses comerciais e políticos dos proprietários das redes.
“Essa decisão diminui a responsabilidade social das big techs, das corporações, das organizações controladoras das plataformas. Isso tem um impacto direto na proliferação de ódio, desinformação, conteúdos prejudiciais em diversas camadas, especialmente, entre populações vulneráveis. Muito jovens ficam mais expostos a conteúdos inadequados sem essa moderação e, claro, quando se trata de desinformação, isso ataca instituições e a própria democracia”, avaliou.
Na outra ponta, o Supremo Tribunal Federal (STF) está julgando a constitucionalidade do Artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), segundo o qual, provedores, websites e redes sociais só podem ser responsabilizados por conteúdo ofensivo ou danoso postado por usuários caso descumpram uma ordem judicial de remoção.
Ph.D. em educação matemática pela Universidade da Califórnia e mestre em psicologia cognitiva, Meira pontua que a ausência de uma decisão sobre o tema pode levar a uma potencial sobrecarga judicial.
“Pode haver um aumento considerável de casos judiciais justamente pela falta dessas ações preventivas. Então, é possível preservar a liberdade de expressão com moderação responsável. A meu ver, o posicionamento é uma rediscussão do Artigo 19 do Marco Civil da Internet para fortalecer o que seria a proteção social, não só de crianças e jovens, mas de avaliar o que se faz com o grupo de idosos hoje, vulnerabilizados por todo um conjunto de ataques, de cooptação a determinados tipos de ideologia”, acrescentou.
Além disso, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2.630 de 2020, conhecido como PL das Fake News, principal proposta de regulação das plataformas digitais. O texto já foi aprovado pelo Senado e está travado na Câmara dos Deputados. A proposta trata da responsabilidade civil das plataformas e também tem elementos de prevenção à disseminação de conteúdos ilegais e danosos a indivíduos ou a coletividades.
“Regular essas plataformas é vital para que tenhamos a manutenção de um espaço social online, produtivo e saudável para todas as pessoas – principalmente jovens e crianças que têm menos mecanismos individuais de proteção”, afirmou. “Aqueles que defendem a desregulamentação total das redes certamente têm uma uma ideia frágil e inconsistente do que é liberdade. Uma liberdade restrita sem controle social destrói, degenera as bases da nossa capacidade de construir e de fazer evoluir uma civilização. Então, claramente, a autorregulação é insuficiente, especialmente em se tratando de empresas que buscam lucro através, por exemplo, da publicidade, do comércio, enfim, as grandes plataformas, as big techs”, alertou.
Enquanto não há uma decisão sobre o tema, o professor considera necessário construir um ambiente de confiança, na escola, na família e nos demais espaços onde crianças e jovens são acolhidos para evitar que crianças e adolescentes acabem sendo submetidos a situações de disseminação de ódio e bullying, entre outras.
“O principal é a construção da confiança entre as pessoas. Sem a construção desses laços, desse relacionamento baseado na confiança, qualquer dessas estratégias não terá os efeitos desejados. A primeira orientação é estabelecer um diálogo aberto. Então, pais, mães, filhos e filhas, eles têm que, de alguma forma, estabelecer, manter, ou evoluir essa interlocução confiante.
De acordo com Meira, esse ambiente propicia a realização de conversas sobre os riscos online e também sobre a forma como se dão os relacionamentos com e nas redes sociais. “Eu entendo que essas são conversas íntimas que, baseadas na confiança, podem progredir de forma saudável”, afirmou.
Outro ponto defendido pelo professor é o estabelecimento de limites claros sobre o uso da internet e de redes sociais como, por exemplo, de tempo e de tipos de relacionamento.
“Isso não vai ser realizado, não vai ser cumprido se não existir um diálogo aberto em que crianças e adolescentes entendam que existem conteúdos inadequados e que precisam ter senso crítico, ter seu pensamento e formas de raciocínio. No entanto, nessa faixa etária, eles simplesmente ainda não conseguem capturar os riscos. Por isso, precisam de um adulto que tenha pelo menos uma intuição mais apurada para identificar formas de cyberbullying, de exposição excessiva, de conteúdos inadequados, de contato com estranhos entre outros tipos de relacionamentos”, disse.
Luciano Meira ressalta que pais e responsáveis tendem a simplesmente restringir ou proibir o uso de redes sociais, sem um diálogo consistente sobre o porquê da decisão.
“Sinto dizer que os responsáveis o proíbem de uma forma muito autocrática e que talvez não surta efeito, porque não se tem controle absoluto sobre o que acontece na vida de absolutamente ninguém. Você pode estabelecer uma forma de monitoramento participativo, em que busca conhecer, e esse monitoramento pode ser apoiado, do ponto de vista técnico, inclusive por softwares, com aplicações computacionais que você instala no notebook, no computador de mesa ou no dispositivo móvel dessa criança ou jovem para ter acesso ao que está acontecendo nesses dispositivos”, sugeriu.
Por fim, o professor afirma defende que não se deve deixar de lado o mundo real e exemplifica com a legislação que proíbe o uso de celulares nas escolas.
“Mais recentemente, as escolas têm visto alguma movimentação em torno das crianças voltarem a construir relações no mundo físico. Por exemplo, ao proibir o uso de dispositivos nas escolas, convidam as crianças para uma existência que é também offline. No final das contas, um equilíbrio é necessário entre esses mundos para que no final a gente tenha a construção de relacionamentos sociais mais duradouros e que ganhe sustentação na confiança entre as pessoas e não apenas em algoritmos”, concluiu.
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