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Nova CEO da Bayer Consumer Health: “Precisamos Dizer o Que Queremos na Carreira”

Redação Informe 360

Publicado

no

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Cristina Hegg assume em janeiro a divisão de medicamentos isentos de prescrição da Bayer, que tem no portfólio marcas como Aspirina e Bepantol
Divulgação Bayer

Cristina Hegg assume em janeiro a divisão de medicamentos isentos de prescrição da Bayer, que tem no portfólio marcas como Aspirina e Bepantol

Cristina Hegg construiu sua carreira toda no marketing, mas quando assumiu como diretora, percebeu que queria ir além. “Desde o dia um, demonstrei a vontade de ser CEO, e fui orientada e capacitada para chegar a essa posição”, diz a executiva, que assume a liderança da Bayer Consumer Health, divisão de medicamentos isentos de prescrição da multinacional alemã, em janeiro de 2025.

Primeira mulher à frente da área no Brasil, Cristina sucede Sydney Rebello, que agora passa a liderar a região do Conosur, que envolve Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia.

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Com mais de 20 anos de carreira, os últimos 7 na Bayer, a paulistana se destacou e chegou à cadeira mais alta não apenas por trazer experiência e resultados, mas por se comunicar com segurança e deixar claras suas ambições. “Aprendi que precisamos falar o que queremos. Pelo menos para mim, as coisas nunca caíram no colo.”

A executiva alternou passagens entre farmacêuticas, como a Boehringer Ingelheim, e gigantes de bens de consumo, como Unilever e Johnson & Johnson. Na Bayer, liderou a área de produtos dermatológicos e agora é responsável por liderar o crescimento da divisão de consumer health, com um portfólio de 170 produtos, como Aspirina, Bepantol e Redoxon, no mercado brasileiro. A área cresceu 17% em 2023. “Nos outros países, já estamos como líder ou na segunda posição. Para conseguir crescer na região, precisamos do Brasil.”

Abaixo, Cristina Hegg, nova CEO da Bayer Consumer Health conta como se preparou e o que é mais importante para chegar a essa carreira.

Forbes: Você é a primeira mulher a estar à frente dessa divisão no Brasil. O que isso representa?

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Cristina Hegg: Quando eu fui apontada para essa posição, a gente começou a fazer a retrospectiva de quem veio antes. Existem outras mulheres nessa posição no mundo, mas eu sou a primeira no Brasil. E isso representa muito. Comecei a receber mensagens de muitas mulheres e até a minha filha ficou impressionada. Eu gostaria que quando ela tivesse a minha idade esse não fosse mais um grande tema, sabe? É muito emblemático para as mulheres que estão na companhia e fora. Já existe um funil muito grande para chegar numa posição assim, então quando é uma mulher sem dúvida representa ainda mais.

Você vem de comunicação, uma área não muito convencional para uma CEO. Como essa formação te ajudou a construir sua carreira e como você foi complementando ao longo do caminho?

No curso de comunicação na ESPM, eu optei em ir para o lado do marketing, onde eu me identificava mais. A própria carreira de marketing traz um olhar muito estratégico. Dependendo do segmento em que você trabalha, você começa a atuar muito mais diretamente no negócio porque é uma área central. Dentro de farma, você trabalha muito fortemente em uma parte até mais financeira. A gente vai construir uma marca, mas como a gente ganha rentabilidade com isso, como a gente traz a saúde financeira para o negócio? Eu também fui fazer um MBA em administração porque complementa muito a formação. Acabei indo para o Insper, o que me trouxe a base para começar a entrar um pouco nesse lado do business, que eu particularmente adoro. A área que sempre foi mais interessante para mim foi essa parte de entender os impactos no negócio. Fui construindo a minha carreira para que em algum momento eu chegasse numa posição como essa, que é mais generalista.

Então você tinha a ambição de ser CEO?

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Quando eu entrei no marketing, minha ambição era ser diretora de marketing. É a minha paixão. Mas quando eu sentei na cadeira de diretora de marketing, eu pensei: “eu olho para cima e gosto disso”. Se fosse continuar em uma carreira de marketing, eu ia buscar uma cadeira global. Naquele momento eu já sentava numa cadeira regional. Esse foi o momento da decisão. Eu quero ir para uma carreira de marketing ou quero focar muito mais no negócio, que seria uma carreira de CEO? Eu não tinha essa clareza com 20 anos de idade, fui na experimentação e vendo aonde eu achava que conseguia gerar mais valor e o que me dava prazer.

Como foi o processo para se tornar CEO? Você chegou a verbalizar essa ambição?

Essa é outra coisa que eu aprendi: a gente precisa falar o que a gente quer. Pelo menos para mim, as coisas nunca caíram no meu colo sem eu dizer exatamente o que eu queria e expressar com todas as letras. Isso eu fui aprendendo com várias pessoas com quem eu trabalhei e que me ajudaram a romper essa barreira. Porque às vezes a gente tem dificuldade de falar o que a gente quer, fica com medo de ser questionada ou vista como pretensiosa. Então eu falei ‘o que eu quero é isso, me ajuda a me preparar?’. E nesse sentido eu tive muita sorte porque trabalhei com pessoas que tinham esse olhar de querer me desenvolver. E eu falo que é sorte porque nem todo mundo tem esse olhar. A pessoa com quem trabalho e que estou substituindo nessa cadeira me preparou durante quatro anos, enquanto ocupei o cargo de diretora de marketing. Desde o dia 1, quando eu demonstrei essa vontade, ele me orientou e me capacitou para assumir essa posição. Ele me deu a possibilidade de ganhar visibilidade com as pessoas com quem eu precisaria trabalhar melhor e fomos construindo juntos. Então é muito importante ter essa liberdade de falar o que você quer construir na carreira e ter o apoio do seu gestor ou das pessoas que estão trabalhando para que você consiga se desenvolver. São poucas cadeiras como essa, é muito concorrido, então é um trabalho em conjunto.

O que mais fez parte dessa preparação nesses últimos anos para chegar a essa posição?

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Tem uma parte importante de ir atrás, fazer perguntas, ser cara de pau e ter curiosidade para entender outras coisas além do seu trabalho específico. Eu comecei a querer me envolver em projetos que não necessariamente eram relacionados a marketing. Queria entender toda parte de cadeia de suprimentos, logística, finanças. Você pode ser muito bom naquilo que você faz, mas se você não conseguir ampliar o seu escopo de atuação, fica um pouco difícil de se enxergar numa posição de liderança. Na Bayer, a gente tem um modelo de negócio dinâmico e eu consegui nos últimos anos fazer projetos fora da minha área que me ajudaram nesse desenvolvimento e me colocaram para trabalhar com times variados, muitas vezes no global.

Como você disse, são poucas cadeiras como essa. O que você diria que te destacou para chegar nessa posição?

Eu sempre fui muito clara e muito segura na maneira de me colocar e me envolver com diferentes stakeholders. Mas essa segurança não vem do nada, eu me aprofundo nos temas para entrar nas discussões sabendo do que eu estou falando. E também tem uma certa humildade de pedir para me ensinarem. Sempre me preparei muito para levar uma informação, para fazer uma apresentação, ir para uma reunião e entender com quem eu estou falando para adequar melhor a mensagem dependendo da pessoa.

Sempre fui muito assertiva na maneira de falar e trazer as informações. Às vezes isso é muito bom e às vezes nem tanto, mas eu sinto que no negócio ajuda, as pessoas te enxergam como uma referência. Também é importante ter as pessoas certas e que te apoiam. Porque você pode ser incrível, mas às vezes você não está no lugar certo, com as pessoas certas e não necessariamente as coisas vão acontecer do jeito que você programou. Mas você também tem que entender se aquilo não vai acontecer porque você não está no ambiente correto e pensar se não é o caso de sair e buscar outra coisa. É ter bastante clareza e autoconhecimento para entender o quanto é uma questão sua de desenvolvimento ou o quanto que o meio não está te ajudando.

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Como foi sua trajetória de carreira até chegar na Bayer?

Comecei com 20 anos numa farmacêutica. Meu pai é médico e acho que isso tem uma certa influência na minha paixão por saúde. Sempre tive muita admiração por essa área, apesar de não ter tido coragem de fazer medicina. Fui construindo a minha carreira em pesquisa de mercado, meu começo foi em instituto de pesquisa, no Ibope.

Participei do primeiro programa de trainee do grupo e foi muito bacana a experiência com diferentes áreas dentro da pesquisa. Acabei ingressando na Unilever, que é uma escola de marcas, com muitas possibilidades e tive a oportunidade de fazer a transição para o marketing. Foi lá que começou essa paixão que eu tenho pela construção de marcas, de tudo que a gente pode entregar para o consumidor. Depois de um tempo, voltei para farmacêutica, fui para a Boehringer. Sempre trabalhei com consumo direto, nunca com prescrição por essa vontade e esse prazer que eu tenho de conversar e ter uma relação direta com os consumidores. Na Boehringer, trabalhei com consumo de medicamentos livres de prescrição na área de gastro, com marcas como Buscopan e Buscofem e aí voltou essa paixão pela saúde. Quando você trabalha numa farma, muda muito o impacto que você pode ter na vida da pessoa.

Tive uma passagem um pouco mais rápida pela Johnson e depois voltei de novo para farma com a Bayer. As possibilidades de desenvolvimento de carreira foram imensas desde que eu entrei. Existe uma liberdade para construir a sua própria carreira e valorização da equidade de gênero. Existe uma agenda relacionada a isso, e isso de fato acontece. Na nossa divisão de consumo, temos hoje 55% de mulheres em cargos de liderança.

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Qual a importância do Brasil para a Bayer, especialmente nessa área que você assume agora?

O Brasil é o maior mercado de OTC [over-the-counter] – medicamentos livres de prescrição – da América Latina. A Bayer tem uma participação relativamente baixa dentro desse mercado porque a gente atua em categorias que são menos representativas. Mas nas categorias em que a gente atua, estamos em posição de liderança ou dentro das top três marcas. Nos outros países já estamos como líder ou na segunda colocação e para conseguir crescer na região, precisamos do Brasil. Então o nosso foco hoje é acelerar o crescimento no país. O mercado brasileiro não é fácil, já tem marcas muito dominantes e a gente tem que se destacar dentro disso e encontrar o melhor modelo para crescer.

Já vemos crescendo nos últimos anos, tivemos um crescimento forte em 2023, de 17%, esse ano também terminamos bem, mas precisamos crescer muito mais se quisermos mudar a posição da Bayer na América Latina, que hoje só perdemos por conta do Brasil.

Qual o papel da tecnologia para acelerar esse crescimento?

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Não existe mais crescimento sem tecnologia. Hoje a gente tem que se adequar aos meios digitais, que são completamente dominados pelos algoritmos. A tecnologia está nos nossos clientes, então quando a gente vai numa reunião de negócio com uma grande rede, eles têm ali todos os dados de uma maneira tão estruturada que se você também não tem do seu lado, não dá para ter uma discussão de negócio realmente estratégica. A gente tem que se preparar em relação aos dados e usar os dados como geração de negócio e não como reação.

As tecnologias também nos ajudam a mapear e alocar as pessoas certas nos projetos certos com a ajuda da inteligência artificial. Eu não consigo imaginar hoje como a gente discute o negócio sem uma inteligência artificial por trás, sem os dados gerando todas as nossas discussões e toda inovação.

O que a maternidade trouxe para sua vida que você leva para o seu trabalho?

A maternidade me mudou completamente, como pessoa e profissional. A primeira coisa para mim é a relativização das questões. Coisas que eu achava que eram problemas gigantes no trabalho e não saberia como lidar com aquilo, depois que eu tive a minha filha mudou completamente. Eu chegava em casa, via ela e percebia como as coisas eram pequenas. Eu não vou deixar a peteca cair no trabalho, mas sempre coloco ela em primeiro lugar.

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Isso me ajudou a me organizar e organizar a minha rotina. Porque antes o trabalho atropelava tudo. Eu consegui ter mais tempo para mim depois que eu tive minha filha do que antes. Hoje, por exemplo, eu faço esporte todos os dias de manhã e tento não marcar reunião antes das 9:30. Isso também dá abertura para as outras pessoas entenderem que elas também conseguem balancear a vida delas. Não consigo me imaginar mais como eu era antes.

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Censo 2022: Nível de Ocupação É Menor Que o Registrado em 2010

Redação Informe 360

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

O nível de ocupação da população brasileira chegou a 53,3% em 2022, de acordo com os dados do Censo. Isso significa que pouco mais da metade das pessoas com 14 anos de idade ou mais estava trabalhando quando a pesquisa foi realizada. A proporção é um pouco menor do que a verificada no Censo anterior, realizado em 2010, quando 55,5% das pessoas a partir desta idade estavam ocupadas.

“Em 2010, a economia estava mais aquecida. Já em 2022, a gente estava saindo da pandemia. Tem um movimento de recuperação em 2022, mas ainda não estava plenamente recuperada a economia”, explica o analista do IBGE João Hallack Neto.

Os dados do Censo relativos a trabalho e rendimentos foram divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e se referem a respostas dadas por cerca de 10% da população, selecionada de forma aleatória para compor uma amostra, que respondeu um questionário mais completo do que as questões básicas aplicadas a todas as pessoas.

Eles mostram ainda que 11,1% dos adolescentes entre 14 e 17 anos já exerciam algum tipo de trabalho no momento da pesquisa. Na outra ponta, 14,9% das pessoas com 65 anos ou mais também trabalhavam.

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Renda

Em contrapartida, os trabalhadores brasileiros recebiam, em 2022, R$ 2.851 por mês, em média, mas 35,3% das pessoas tinha remuneração de, no máximo, 1 salário mínimo, o que na época equivalia a R$1.212. Neste quesito, houve um ligeiro avanço entre os anos, já que a proporção no Censo de 2010 foi 36,4%.

Nas duas edições da pesquisa, a maioria dos trabalhadores recebia entre 1 e 5 salários mínimos, proporção que subiu de 54% para 57%, entre 2010 e 2022. Por outro lado, a parcela de pessoas com rendimentos provenientes do trabalho superiores a 5 salários mínimos caiu, de 9,6% para 7,6%.

Ainda de acordo com o Censo, o rendimento proveniente do trabalho era responsável por 75,5% da renda mensal domiciliar, enquanto fontes como aposentaria, pensão, benefícios de programas sociais do governo e aluguéis correspondiam aos outros 24,5%.

A relação entre o nível educacional e a remuneração também foi comprovada: trabalhadores com ensino superior completo recebiam, em média, R$5.796, cerca de R$3.500 a mais do que quem tinha completado apenas o ensino médio, população com renda média de R$2.291 mensais.

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Trabalho

Algumas mudanças no mercado de trabalho também apareceram na pesquisa. Em 2022, a população ocupada como empregados somou 69,2%, quase 5 pontos percentuais a menos do que em 2010. Já os trabalhadores por conta própria somavam 26,7%, um aumento de mais de 4 pontos na comparação com 2010, quando eles perfaziam 22,4%. Apesar da proporção de empregadores ser bem menor, também houve aumento entre os anos, de 2,1% para 3,3%

Entre os empregados, a maioria atuava no setor privado com carteira assinada, em 2022: 56,3%. Em seguida, vem os trabalhadores sem carteira do setor privado, que somavam 18,5% e os militares e estatutários, 13,7%.

Regiões

A pesquisa também identificou algumas diferenças regionais. Quanto ao nível de ocupação, por exemplo, a média brasileira de 53,3% foi superada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e no Sul, onde foi verificada a maior proporção: 60,3%. Já no Norte e Nordeste, menos da metade da população com mais de 14 anos estava ocupada no momento da pesquisa: 48,4% e 45,6%, respectivamente.

Essa desigualdade também apareceu nos rendimentos obtidos com o trabalho. No Centro-Oeste, essa renda representava 80,6% do total de rendimentos declarados pelos domicílios, 12,8 pontos percentuais a mais do que a proporção de 67,9% verificada no Nordeste. Nas outras três regiões, a relação ficou na casa dos 76%. Já o rendimento médio mensal de todos os trabalhos variou de R$ 2.015 no Nordeste, a R$ 3.292 no Centro-Oeste, ficando em R$ 2.238 na Região Norte, R$ 3.154 na Região Sudeste e R$ 3.190 no Sul.

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“Do total de municípios, 520 deles apresentaram rendimento nominal abaixo de um salário mínimo, enquanto 19 deles possuem um indicador acima de quatro salários mínimos. Ilustrando a desigualdade tão grande que a gente tem disseminada pela história, os 10 municípios com menores rendimentos situavam-se na Região Nordeste. Por outro lado, 10 municípios com maiores rendimentos médios estavam nas regiões Sul e Sudeste”, complementa o analista do IBGE João Hallack Neto.

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Negócios

Como Brasileira Chegou Ao Topo da Inovação da L’Oréal na América Latina

Redação Informe 360

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Juliana Farias é a primeira brasileira a assumir a diretoria de pesquisa e inovação do grupo L’Oréal na América Latina, cargo que assumiu em julho deste ano. “Descobri o mundo da liderança, no qual me senti muito confortável”, diz ela, que iniciou a carreira como pesquisadora acadêmica. “Surgiram oportunidades para continuar crescendo dentro da empresa e fui construindo minha trajetória.”

À frente de uma equipe de 150 profissionais, em sua maioria cientistas, espalhada entre Brasil e México, Juliana é responsável por conduzir a agenda de inovação da L’oréal na América Latina e garantir que as descobertas feitas aqui cheguem ao mundo. “Somos um mercado efervescente e crucial para categorias como cabelos e fotoproteção”, afirma. “Tudo que inovamos aqui tem potencial de funcionar globalmente.” O Brasil é o quarto maior mercado mundial de beleza e cuidados pessoais.

Formada em engenharia de alimentos pela Unicamp e mestre em alimentos e nutrição pela mesma instituição, Juliana sempre foi apaixonada por ciência e encontrou na academia uma chance de colocar a paixão em prática. “No início, queria estar no laboratório. Trabalhei em projetos de iniciação científica, fiz mestrado e desenvolvi pesquisas”, lembra. “Foi assim que entrei na ciência e me apaixonei pelo campo.”

“Desde o início, sempre gostei de estar em laboratórios e experimentar. Esse foi meu direcionamento natural.”

Após o mestrado, iniciou a carreira profissional na indústria de alimentos, onde se especializou em ciência sensorial – conhecimento que mais tarde aplicaria à indústria de cosméticos. “Entrei para o centro de pesquisa da L’oréal por conta da minha expertise técnica e do meu background sensorial”, conta a executiva paulista, baseada no Rio de Janeiro. “Vim de uma ciência voltada para o consumidor, e isso também ajudou a moldar meu papel de liderança.”

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Com mais de duas décadas de experiência entre academia e indústria, Juliana segue motivada pelo impacto que a ciência brasileira pode ter no mundo. “O que me move é ver o potencial dos talentos brasileiros em pesquisa e como nossa criatividade é reconhecida globalmente”, afirma. “Como a primeira brasileira na minha posição, quero abrir caminho para os próximos.”

A seguir, confira os destaques da entrevista com Juliana Farias, nova diretora de pesquisa e inovação do Grupo L’Oréal na América Latina.

Forbes: Como surgiu a oportunidade de assumir essa posição de diretora?

Juliana Farias: Sempre trabalhei na área de pesquisa e inovação e estou há 14 anos na L’Oréal, no centro de pesquisa no Rio de Janeiro, atendendo o Brasil e a América Latina. Foi um processo de construção: comecei na indústria de alimentos, depois vim para o centro de pesquisa por conta da minha expertise técnica e do meu background sensorial, aplicando essa ciência no setor de cosméticos, que ainda era muito novo nesse ambiente.

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Aqui, descobri não só o mundo dos cosméticos, mas também o da liderança, no qual me senti muito confortável. A partir daí, surgiram oportunidades dentro da empresa para continuar crescendo. Comecei como gerente de equipe em uma área de avaliação de produtos e fui construindo minha trajetória.

O que te destacou para chegar até aqui?

Acredito que, pelo meu conhecimento do mercado de beleza, minha paixão, forma de liderança e o foco da L’Oréal nos mercados emergentes, incluindo a América Latina, houve muita confiança no meu trabalho. Pelo meu engajamento e conhecimento, me foi dada a oportunidade de ser a primeira brasileira e primeira mulher a ocupar essa posição no Brasil.

Na prática, como funciona esse trabalho?

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Meu trabalho é liderar a agenda de inovação, garantindo que as iniciativas saiam do Brasil para o mundo. Somos um dos sete hubs globais de pesquisa e inovação da L’Oréal. O Brasil é um mercado efervescente, o quarto maior do mundo, e crucial para categorias como cabelos e fotoproteção, pois temos consumidores exigentes em um ambiente com altos índices de UV e outros agressores externos.

Tudo que inovamos aqui tem potencial de funcionar globalmente. Meu dia a dia envolve liderar diferentes áreas de desenvolvimento de produtos, garantindo que tenhamos os projetos e talentos certos para gerar inovações de curto, médio e longo prazo que atendam a essas ambições.

Para quem começou a carreira na academia, como foi assumir posições de liderança?

Meu caso é um pouco diferente de muitos líderes de pesquisa e inovação. Muitos vieram dos laboratórios de desenvolvimento, formulação ou ingredientes. Eu vim de uma ciência voltada para o consumidor, a ciência sensorial. Sempre estive centrada na experiência do usuário, e isso naturalmente se refletiu na forma como lidero. Estou próxima da minha equipe, observo suas necessidades e busco desenvolver carreiras.

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Apesar de ter sido muito desenvolvida como líder aqui na L’Oréal, meu foco no usuário e no consumidor, vindo da minha base científica, ajudou a moldar a minha liderança.

Como foi o início da sua carreira?

Desde o começo, fui direcionada para a ciência. Sou formada em engenharia de alimentos pela Unicamp e, logo nos primeiros anos, me interessei pelo trabalho de iniciação científica. Queria estar em um laboratório nos primeiros anos, quando tudo ainda era muito teórico. A professora Helena Bolini me acolheu; ela trabalhava com análise sensorial. A partir desse momento, minha carreira foi moldada. Trabalhei com ela em projetos de iniciação científica, fiz mestrado sob sua orientação e desenvolvemos pesquisas, por exemplo, sobre substituição de açúcar em produtos guiada pela avaliação sensorial.

Foi assim que entrei na ciência e me apaixonei pelo campo. Após o mestrado, minhas primeiras posições na indústria foram na área de avaliação sensorial. Desde o início, sempre gostei de estar no laboratório e experimentar. Esse foi meu direcionamento natural.

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Você continua presente no trabalho de campo?

Continuo, embora cada vez menos dentro do laboratório devido ao meu papel de executiva. Na L’Oréal, seguimos o conceito de ser “poeta e camponês”: o líder precisa ter visão estratégica, mas também estar próximo das equipes, viver o dia a dia.

Quando cheguei à L’Oréal vinda da indústria de alimentos, uma das primeiras ações foi justamente estar no campo com a minha equipe. Liderava um time que incluía cabeleireiros e especialistas capilares, e um dos momentos em que mais aprendia era quando eu estava com eles, observando como nossos produtos se comportavam, ajudando na inovação e, ao mesmo tempo, ouvindo suas necessidades para melhorar processos. Hoje, embora esteja menos no laboratório, minha sala fica ao lado dele, e ainda tenho esses momentos de proximidade com as equipes.

Houve algum momento marcante em sua carreira que te orgulha?

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Um momento muito importante para mim e para a maioria dos pesquisadores do Hub foi dentro da área de Haircare. Hoje, somos líderes de mercado no Brasil e na América Latina com a marca L’Oréal Paris, mas nem sempre foi assim. Alguns anos atrás, enfrentamos momentos de baixa, e um dos pontos-chave de virada veio da nossa pesquisa, quando desenvolvemos a fórmula de um produto de tratamento da Elséve que mudou a história da marca e hoje é líder de mercado para cuidados com cabelo no Brasil.

Esse produto se tornou um marco, pois fomos reconhecidos pelos consumidores e aumentamos a recompra. Foi um caso que misturou minha experiência em avaliação sensorial: decodificamos quais sinais faziam a consumidora perceber que o produto era eficaz. Por exemplo, notamos que a sensação de cabelo “desmaiado” indicava eficácia — algo que, embora pareça simples, foi traduzido cientificamente para orientar a formulação. O resultado foi um dos tratamentos mais potentes da marca, desenvolvido no Brasil, que se tornou um dos condicionadores mais produzidos pelo grupo.

Como você percebeu mudanças na liderança feminina desde o início da sua carreira até hoje?

Me sinto privilegiada, porque sempre tive muitas mulheres como inspiração e líderes em meu campo. Minha primeira orientadora na universidade era mulher, minha primeira líder em outra empresa também, e aqui na L’Oréal tive lideranças masculinas e femininas que me moldaram como profissional.

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Hoje, no campo da ciência, ainda existe desigualdade. Enquanto mais da metade dos cargos de liderança em nosso centro de pesquisa no Brasil são ocupados por mulheres, no cenário científico global cerca de 30% dos cargos de liderança são femininos. Há evolução, mas a equidade ainda não é uma realidade em todos os campos.

O que te move no seu trabalho?

Sempre foi a paixão pela ciência. Aqui na L’Oréal, temos um Hub de pesquisa onde realizamos ciência do zero. O grupo investiu cerca de 1,3 bilhão de euros em pesquisa no ano passado globalmente. O que me motiva é ver o potencial dos talentos brasileiros em pesquisa, sua criatividade e como interagem entre as áreas de forma diferenciada em comparação ao resto do mundo. É muito gratificante perceber que nossa ciência e nossos talentos brasileiros e latino-americanos são cada vez mais reconhecidos globalmente.

Se pudesse voltar no tempo, que conselho daria para si mesma ao começar a carreira?

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Diria para acreditar no que você gosta de fazer. Alinhar suas escolhas ao que realmente te interessa e confiar nesse caminho. Experimente, continue explorando seu percurso e cerque-se de exemplos que te fortalecem. Isso é fundamental, especialmente em ciência e liderança.

Tirando o crachá, quem é a Juliana?

É difícil separar a pessoa do trabalho. Acredito que autenticidade é essencial, então sou a mesma pessoa dentro e fora da empresa. Sou uma mulher brasileira, muito orgulhosa das minhas origens — paulista do interior, mas carioca de coração. Amo viver ao ar livre no Rio de Janeiro. Sou apaixonada por música, boa comida e vinho. Sou casada, mãe de um filho de 11 anos, e divido minhas funções de maternidade com as responsabilidades de esposa, filha, irmã e líder. Sou uma pessoa solar, feliz, estimulada pelo sol, pela luz e pelo ambiente ao meu redor.

A trajetória de Juliana Farias, diretora de pesquisa e inovação do Grupo L’Oréal para Brasil e América Latina

Por quais empresas passou

La Basque, Givaudan e L’Oréal

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Formação

Engenheira de alimentos e mestre em alimentos e nutrição pela Unicamp

Primeiro emprego

Analista de pesquisa sensorial na Givaudan Flavours

Primeiro cargo de liderança

Coordenadora de pesquisa sensorial na Givaudan Flavours

Um hábito essencial na rotina

Tomar meu café da manhã com calma pelas manhãs e usar protetor solar facial diariamente.

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Um livro, podcast ou filme que inspira sua visão de gestão

A série “Chef’s Table”, da Netflix. Acho muito interessante a visão consistente de que vários chefs alcançaram o sucesso dos seus restaurantes, engajamento das equipes e satisfação pessoal quando decidiram inovar, apostando no diferencial da sua cultura e na sustentabilidade regional.

O que te motiva

Inspirar o mundo através da criatividade e ciência brasileiras.

Um conselho de carreira

Cercar-se de pessoas que te complementem e ser claro no que deseja como caminho de carreira.

Tempo de carreira

18 anos no mundo corporativo e 24 anos entre academia e mundo corporativo.

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Negócios

Musk Nomeia Ex-Banqueiro do Morgan Stanley Como Diretor Financeiro da xAI

Redação Informe 360

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no

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

O bilionário Elon Musk nomeou Anthony Armstrong, ex-banqueiro do Morgan Stanley que o aconselhou na aquisição do X, como novo diretor financeiro de seu grupo de inteligência artificial xAI, informou o Financial Times na segunda-feira (6).

Armstrong vai liderar as operações financeiras da xAI e da plataforma de mídia social X, disse a reportagem, citando várias pessoas familiarizadas com o assunto.

O veterano negociador Armstrong vem trabalhando com a xAI há várias semanas e foi formalmente nomeado diretor financeiro nos últimos dias, disse o jornal.

A xAI e o X não responderam imediatamente a um pedido de comentário da Reuters. Armstrong não pôde ser contatado imediatamente.

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Musk lançou a xAI em 2023 para desafiar o avanço da IA das grandes empresas de tecnologia, acusando os líderes do setor de censura excessiva e padrões de segurança frouxos.

Armstrong também será responsável por conduzir o negócio de mídia social de volta à estabilidade financeira após um êxodo de anunciantes, depois que Musk relaxou seus padrões de moderação de conteúdo.

Como chefe global de fusões e aquisições de tecnologia do Morgan Stanley, Armstrong fez parte da equipe que Musk contratou para gerenciar a compra do Twitter por US$44 bilhões em 2022.

À medida que o acordo financiado pelo Morgan Stanley tomava forma, Armstrong e Musk desenvolveram um relacionamento próximo, de acordo com a reportagem.

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No início deste ano, Armstrong ajudou Musk a supervisionar o Escritório de Gestão de Pessoal durante sua passagem por Washington no Departamento de Eficiência Governamental.

Armstrong substituirá Mike Liberatore como diretor financeiro da xAI. Liberatore deixou a startup de inteligência artificial este ano após conflitos com membros do círculo íntimo de Musk sobre a estrutura corporativa e as metas financeiras, segundo a reportagem do FT.

A conta X de Armstrong agora apresenta o logotipo xAI ao lado de seu nome, indicando sua nova função.

Sua nomeação como diretor financeiro ocorre em meio a uma onda mais ampla de saídas de executivos. Em julho, a presidente-executiva do X, Linda Yaccarino, renunciou e, no verão (do hemisfério norte), Liberatore, da xAI, e o conselheiro-geral Robert Keele também deixaram a empresa.

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Além disso, o diretor financeiro do X, Mahmoud Reza Banki, saiu após menos de um ano no cargo, disse a reportagem do FT.

A xAI está supostamente em discussões para uma nova rodada de financiamento que pode avaliar a empresa em aproximadamente US$200 bilhões, embora os investidores digam que o acordo ainda não foi finalizado, acrescentou a reportagem.

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