Negócios
5 lições das abelhas sobre como trabalhar em equipe

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
As abelhas têm fama por sua capacidade de organização e trabalho árduo. Uma colmeia é uma estrutura complexa com milhares de abelhas que trabalham juntas pelo bem comum da colônia. Cada uma tem um papel específico e seus esforços coordenados mantêm a colmeia funcionando de forma eficiente.
Assim como as colmeias, as empresas são ecossistemas complexos que exigem uma inteligência e mentalidade coletivas para funcionar de forma otimizada e criar mudanças significativas. Siobhán McHale, autora do livro “The Hive Mind at Work” (“A Mente Coletiva em Ação”, em tradução literal), que será lançado em setembro, compartilha lições que podem ser usadas no trabalho sobre como as colmeias de abelhas se organizam e trabalham juntas.
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Capacidade de organização e de trabalho em equipe das abelhas pode trazer lições valiosas para seu trabalho
1. Propósito
Responsáveis por US$ 14,6 bilhões (R$ 82,5 bilhões) anuais para a produção agrícola da economia dos EUA, as abelhas precisam trabalhar muito para manter uma colmeia em ordem. Uma abelha operária pode visitar mais de mil flores em um único dia para coletar suprimentos para a colmeia, e, ao longo de sua vida, voará o equivalente a uma vez e meia a circunferência da Terra para produzir menos de uma colher de chá de mel.
No entanto, existe um propósito por trás do trabalho duro que move as polinizadoras. “Elas trabalham tanto para o bem-estar da colmeia quanto para o ecossistema do qual depende a própria existência da colmeia.”
McHale acredita que as organizações de hoje devem operar da mesma forma para alcançar o sucesso. “Sem um propósito maior, você está apenas seguindo os movimentos. Com um objetivo, você não só pode alcançar grandes feitos, mas também superar momentos muito desafiadores como uma equipe.”
2. Clareza de papéis
Segundo McHale, cada abelha assume um papel específico e desempenha essa função em harmonia com as colegas, que assumem posições diferentes. Confira algumas:
- As operárias saem para buscar suprimentos alimentares que transformarão o néctar dourado em mel
- As enfermeiras alimentam os jovens com geleia real para garantir um crescimento bem-sucedido
- As limpadoras removem detritos, o que cria um dos ambientes mais limpos e estéreis da natureza
Embora seu papel específico venha de berço, uma abelha pode mudar suas responsabilidades em resposta às condições da colmeia. Em tempos de paz ou episódios de perigo, a colmeia opera como um ecossistema funcional, cujos esforços em equipe podem produzir mais de 300 kg de mel a cada temporada.
Nas empresas, o papel de cada profissional é tão influente no resultado da companhia quanto o esforço individual e coletivo. Às vezes, os funcionários podem ter uma percepção desatualizada de seus papéis, especialmente em tempos de mudança. Segundo McHale, uma prioridade-chave para os líderes é garantir que todos tenham uma visão clara e alinhada de seu papel.
3. Hora certa de mudar
No final da primavera e no verão, as colmeias de abelhas podem ficar superlotadas e, muitas vezes, dobrar de tamanho. “O espaço pode ficar tão apertado na colmeia que os feromônios da rainha não conseguem alcançar toda a colônia, o que perturba a ordem habitual da colmeia,” diz McHale.
As abelhas coletoras de mel são incapazes de produzir mel suficiente para sustentar a colônia durante os rigorosos meses de inverno que virão. Com isso, a comunidade analisa os sinais de superlotação, determina que não pode coletar suprimentos suficientes para alimentar todo o grupo e decide iniciar uma grande mudança ao dividir a colmeia em duas populações. “É uma mudança assustadora, mas a sobrevivência a longo prazo depende disso.”
Reconhecer o moment0 certo de mudar também é importante no ambiente empresarial. Embora não seja sempre fácil enxergar ou, mais importante, aceitar a realidade, é preciso ter uma vigilância constante para se adaptar às transformações do nosso ecossistema. “Muitos líderes empresariais falham em olhar além das questões urgentes do dia a dia para ver problemas subjacentes que podem ameaçar sua sobrevivência. Líderes precisam buscar sinais sutis e não tão sutis, que indicam que o perigo está à frente se não forem iniciadas mudanças significativas.”
4. Tomada de decisões
Quando uma colmeia superlotada se divide, milhares de abelhas voam e se instalam em uma área temporária, como o galho de uma árvore. Elas exploram e avaliam potenciais lares com uma lista de critérios e apresentam as descobertas para as colegas, até que uma escolha emerge como a melhor possibilidade. “As abelhas sabem que é preciso muito cuidado antes de mover toda a colônia para um novo lar.”
Esse processo pode ser comparado ao de líderes empresariais que aproveitam o poder da inteligência coletiva na tomada de decisões. “Aqueles que ocupam cargos de liderança nunca devem tomar decisões importantes sem consultar as pessoas que realmente fazem o trabalho.”
5. Preparação para mudanças
À medida que as abelhas se preparam para deixar a área temporária em direção ao novo lar, o tempo está correndo, e a colônia só pode sobreviver por cerca de três dias com o mel que as abelhas consumiram antes de deixar a colmeia.
Nesse momento, as super polinizadoras mobilizam a colônia para que todas se juntem à migração. Elas assumem o papel de líderes da mudança para garantir que todos estejam a bordo com a nova direção — algo que muitas vezes não é visto no ambiente de trabalho.
A mudança organizacional é uma tarefa complicada, confusa e, muitas vezes, frustrante. Independentemente da natureza do negócio, o planejamento é essencial para delinear como navegar por novos cenários e enfrentar os riscos que podem afetar o progresso. “A mudança organizacional exige líderes que possam planejar um curso de ação e tomar decisões críticas em meio à incerteza e ambiguidade.”
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*Bryan Robinson é colaborador da Forbes. Ele é autor de 40 livros de não-ficção traduzidos para 15 idiomas. Também é professor emérito da Universidade da Carolina do Norte, onde conduziu os primeiros estudos sobre filhos de workaholics e os efeitos do trabalho no casamento.
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Taxa de Desemprego do Brasil Cai a 5,8% no 2º Tri

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A taxa de desemprego brasileira recuou mais do que o esperado e foi a 5,8% no segundo trimestre, marcando o resultado mais baixo na série histórica iniciada em 2012 e mantendo o cenário de um mercado de trabalho aquecido no país, com novo recorde de renda.
Com a leitura divulgada nesta quinta-feira (31) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa mostrou forte redução em relação aos 7,0% do primeiro trimestre, ficando ainda abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters, de 6,0%.
No mesmo período do ano anterior, a taxa de desemprego foi de 6,9%.
Ainda no período de abril a junho, o rendimento médio mensal real de todos os trabalhos chegou a R$3.477, o que também marcou um recorde. Isso representa crescimento de 1,1% ante o trimestre de janeiro a março deste ano e de 3,3% sobre o mesmo período do ano anterior.
O mercado de trabalho vem se mostrando aquecido e dando suporte à atividade econômica, especialmente ao consumo das famílias, favorecendo os gastos. No entanto, esse cenário com renda em alta dificulta o controle da inflação, especialmente na área de serviços.
O Banco Central manteve na véspera a taxa básica de juros Selic em 15%, antecipando manutenção por período bastante prolongado.
Agora, entretanto, pesam sobre as perspectivas as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na quarta-feira, ele impôs uma taxa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros, embora tenha suavizado o golpe ao excluir setores como aeronaves, energia e suco de laranja das taxas mais pesadas.
O decreto, no entanto, não incluiu isenções para carne bovina ou café, dois importantes produtos da pauta de exportações do Brasil para os EUA.
“Não sabemos como o mercado de trabalho pode reagir ao tarifaço, ele tem inércia e resiliência e não tem a mesma resposta imediata como mercados de títulos e câmbios”, afirmou Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa.
“Tem que ver como vai ser o impacto no complexo do café, frutas e outros segmentos. Mas o mercado de trabalho é mais resiliente quando se fala em desfazer estruturas de produção.”
Nos três meses até junho, o IBGE aponta que o número de desempregados caiu 17,4% em relação ao primeiro trimestre e chegou a 6,253 milhões, um recuo ainda de 15,4% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Já o total de ocupados aumentou 1,8% no trimestre, a 102,316 milhões, 2,4% a mais na base anual.
“O crescimento acentuado da população ocupada no trimestre influenciou vários recordes da série histórica, dentre eles a menor taxa de desocupação”, destacou Beringuy.
Os trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiram um contingente recorde de 39,020 milhões no primeiro trimestre, alta de 0,9% sobre os três meses anteriores. Os que não tinham carteira aumentaram 2,6%, a 13,539 milhões.
A taxa de participação na força de trabalho de 62,4% e o nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) de 58,8% também registraram recordes no período.
Beringuy explicou ainda que o resultado do segundo trimestre traz novas ponderações com base nas projeções populacionais do país de 2024, que incorporam os resultados do último Censo Demográfico, realizado em 2022.
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Como Diretor de Fotografia Brasileiro Chegou à Série de Harry Potter

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A primeira foto do ator Dominic McLaughlin caracterizado como o personagem Harry Potter para a nova série da HBO Max viralizou recentemente, especialmente no Brasil. Mas o motivo não foi óbvio: na imagem, o artista aparecia segurando uma claquete com o nome do diretor de fotografia da produção, até então não revelado: o brasileiro Adriano Goldman. “Considero um privilégio fazer parte disso. É um gênero novo para mim – nunca havia trabalhado com fantasia –, então estou aprendendo bastante, mas é um processo fascinante.”
Responsável pela direção de fotografia de grandes projetos internacionais, como “The Crown”, da Netflix, e “Andor”, série do universo de Star Wars, do Disney+, o fotógrafo já venceu dois Emmys, um BAFTA e um prêmio da ASC (American Society of Cinematographers) ao longo dos mais de 30 anos de carreira no cinema. “Foi (e continua sendo) muito trabalho. Muitas horas da minha vida foram passadas em sets de filmagem, viagens e produções intensas”, conta. “Por isso, embora eu considere um grande privilégio tudo o que está acontecendo hoje, também tenho plena consciência de que trabalhei bastante para chegar até aqui.”
O trabalho por trás das câmeras
Na nova série de Harry Potter, Goldman é o diretor de fotografia principal, responsável por dirigir quatro dos oito episódios da primeira temporada, incluindo o primeiro e o último. “Essa primeira temporada, em especial, é monumental, porque precisa estabelecer todo um universo: cenários que devem durar muitos anos, tudo sendo criado agora.”
O fotógrafo participou das 18 semanas de pré-produção, trabalhando em decisões visuais e conceituais. Agora, durante as filmagens, lidera uma equipe de mais de 100 profissionais e decide o que entra na câmera. “Meu jeito de trabalhar envolve uma postura no set e o gerenciamento eficiente do tempo”, conta. “Não se trata apenas de estética, mas de garantir que tudo funcione e que a engrenagem continue girando.”
“A fotografia não está isolada do resto – a série como um todo precisa funcionar.”
Adriano Goldman
Com grandes produções nacionais e internacionais no currículo, Goldman começou a carreira nos bastidores da televisão, enquanto estudava jornalismo. Trabalhou como assistente de direção até se encontrar na direção de fotografia, apesar da paixão pelo ofício desde a adolescência. “Queria contar histórias em outras línguas e sonhava em ir para Los Angeles. Passei a assistir muito cinema, estudei intensamente e comecei a entender quem era quem dentro dos filmes.”
A seguir, confira destaques da entrevista com o diretor de fotografia da série de Harry Potter, Adriano Goldman.
Forbes: Como a direção de fotografia da série de “Harry Potter” chegou até você?
Adriano Goldman: “The Crown” me deu a oportunidade de trabalhar com diferentes diretores e produtores ao longo das temporadas. O Mark Mylod, diretor da série de “Harry Potter”, comentou que gostava muito de “The Crown” e que queria que essa nova versão de “Harry Potter” tivesse uma abordagem mais realista. Tivemos duas conversas por Zoom no ano passado, enquanto eu estava em Budapeste, filmando um projeto para a Netflix. A conversa foi excelente e nos conectamos bem. Depois disso, me ofereceram a série.
Não sou o único diretor de fotografia — são oito episódios e três diretores de fotografia, além da segunda unidade [equipe secundária]. Mas atuo como lead photographer, o diretor de fotografia principal, porque faço os dois primeiros episódios e o último. No total, quatro dos oito episódios.
A série começou a ser filmada agora, mas você também trabalhou na pré-produção. Como foi esse processo?
A pré-produção durou 18 semanas e, durante esse período, há apenas um diretor de fotografia envolvido. Os diretores de fotografia e arte funcionam como os braços esquerdo e direito do diretor. Nessa etapa, todas as decisões visuais e conceituais passam principalmente por esse trio e suas respectivas equipes.
Esse projeto, especificamente, não é baseado apenas em locações, há muitos cenários construídos, mas também locações reais. Toda a pesquisa, visita e aprovação dessas locações faz parte do processo. Paralelamente, o departamento de arte produz plantas, maquetes e os chamados concept drawings, que são esboços ou quadros que podem inspirar um tom ou servir como ponto de partida para discussões visuais. As decisões sobre cor, composição, atmosfera – tudo isso é discutido intensamente na pré-produção.
Essa é a parte que considero mais gratificante: colaborar desde a origem do projeto. Isso não é comum na carreira de um diretor de fotografia. Em longas-metragens, normalmente você recebe o roteiro, tem um período de pré-produção, filma e encerra sua participação. É um processo que também gosto muito e pretendo continuar fazendo, mas essa preparação extensa, essa elaboração conjunta do conteúdo visual, que também envolve figurino e maquiagem, permite uma colaboração mais ampla entre profissionais talentosos de várias áreas.
Agora, durante as filmagens, como funciona seu trabalho no dia a dia?
Quando as filmagens começam, as locações já foram definidas. Muitas vezes, recebo essas locações já modificadas conforme o planejamento. Por exemplo, visitei uma lanchonete que originalmente era verde, e sabia que ela seria alterada para amarelo. Quando cheguei, ela já estava transformada, com toda a ambientação pronta.
A partir daí, posiciono luzes, câmeras, defino lentes e discuto os movimentos de câmera. Se pensarmos numa sequência simples – os personagens entram na lanchonete, conversam e saem –, é necessário decidir quantos planos ou tomadas serão usados para essa pequena cena. Qual o objetivo dramático da sequência? Essas questões são discutidas constantemente com o diretor. Essa é a essência da colaboração entre o fotógrafo e o diretor.
Além disso, existe um trabalho enorme de gerenciamento. Trata-se de uma operação muito grande, com 300, 400, até 500 pessoas envolvidas. A minha equipe, que inclui câmera, movimento de câmera e elétrica, é composta por cerca de 100 a 120 pessoas. Tenho o apoio de outros profissionais, mas sou responsável por liderar essa estrutura.
Falando em termos técnicos, lidero as equipes de câmera e equipamento de câmera, grip e rigging (maquinaria), além da equipe de elétrica e seus equipamentos. É um processo que exige muita organização e não pode haver erros.
O tempo também é um fator crucial, especialmente quando se trabalha com crianças, cujo tempo permitido em set é bastante limitado. O gerenciamento de tempo é uma das partes mais importantes do meu trabalho. Sei, desde o início, que não terei todo o tempo que gostaria, e aceito isso ao entrar em um projeto desse porte.
Por isso, a fase de pré-produção é essencial: preciso garantir que, ao chegar ao set, haja uma infraestrutura preparada que me permita trabalhar com rapidez e eficiência, mas também com espaço para a elaboração artística.

Goldman foi responsável pela fotografia de longas nacionais como “O ano em que meus pais saíram de férias” e “Xingu”
O que você pode adiantar do seu trabalho na série?
Tenho uma relação especial com a cor. Considero que essa série precisa ser mais vibrante do ponto de vista global da imagem. Gosto da ideia de que meu trabalho inspirou o Mark Millar – tanto em “The Crown” quanto em “Andor”, que, apesar de ser uma ficção científica, tem um tratamento visual mais realista.
Esse meu jeito de trabalhar envolve não apenas um olhar específico, mas também uma postura no set e um gerenciamento eficiente do tempo. É assim que eles me enxergam profissionalmente. Não se trata apenas de estética, mas de garantir que tudo funcione e que a engrenagem continue girando.
Tenho muito orgulho de ter construído essa reputação e trabalhei bastante para isso. Acho interessante ser reconhecido como alguém rápido no set, mas é preciso cuidado: quanto mais rápido você é, mais esperam que você continue sendo. Por isso, é importante ser estratégico e encontrar formas de conquistar o tempo necessário para a elaboração artística.
Quais são os maiores aprendizados ao participar de um projeto dessa escala?
Há muito pouco glamour no meu trabalho. Muitas pessoas ainda associam o cinema a algo glamouroso, mas, nessa escala de produção, isso passa longe da realidade. Para se ter uma ideia, construíram uma escola para as crianças que serão educadas dentro dessa estrutura nos próximos oito, nove ou dez anos. Essa primeira temporada, em especial, é monumental porque precisa estabelecer todo um universo: cenários que devem durar muitos anos, tudo sendo criado agora.
Considero um privilégio fazer parte disso. É um gênero novo para mim – nunca havia trabalhado com fantasia e magia –, então estou aprendendo bastante, inclusive sobre efeitos especiais. Muitas das soluções que buscamos são realizadas em câmera, e não com computação gráfica. Durante a pré-produção, tivemos discussões muito ricas sobre o que pode ser feito com elementos fotoquímicos, o que pode ser representado visualmente e o que se transforma em magia a partir de elementos da natureza. Foi um processo fascinante. Mas, quanto ao restante, permanece em segredo.
Como é liderar uma equipe como diretor de fotografia?
Existe um jeito de trabalhar que aprendi no início da carreira, que entendo hoje como um conceito: a fotografia não está isolada do resto. O filme como um todo precisa funcionar. Tudo tem que ficar bom, em conjunto. Então, minha vaidade como diretor de fotografia não está acima da colaboração com o projeto como um todo.
Eu participo de tudo: movo equipamentos, arrasto cadeiras, espalho folhas secas no chão, pinto o que for possível. Estou sempre envolvido em todos os aspectos visuais. Acredito que isso também é valorizado. Minha relação com o trabalho não é burocrática, é afetiva. Gosto do que faço.

Brasileiro conta como lidou com os desafios de trabalhar fora do Brasil: “Debater em outro idioma é complexo”
Hollywood costuma ser o destino mais visado por quem quer trabalhar com cinema. Como sua trajetória acabou te levando a Londres?
Venho trabalhando na Inglaterra desde 2010, quando fiz “Jane Eyre”, meu primeiro longa com o diretor Cary Fukunaga. Na época, ainda vivia no Brasil, e Los Angeles parecia ser o destino natural para quem aspirava a uma carreira no cinema, especialmente para brasileiros. Dei sorte: antes disso, havia feito um filme no México, depois vim para esse projeto aqui, e já tinha trabalhado também nos Estados Unidos.
Mas, quando finalmente comecei a trabalhar em Londres, mudei um pouco meu direcionamento em termos de quais dessas indústrias ou polos criativos eu achava mais adequado para mim. Gostei muito de Londres e, a partir daí, comecei a voltar com frequência.
Em 2013, fiz um filme no Brasil com o diretor Stephen Daldry, que sempre admirei por “Billy Elliot”. Quando ele voltou ao Brasil para lançar o filme, eu já tinha ouvido falar de uma série que ele estava desenvolvendo com o roteirista Peter Morgan – que eu também conhecia por já ter feito o filme “360” com o Fernando Meirelles. Falei que estava interessado em trabalhar como Daldry novamente e ele respondeu: “Ah, se você quiser fazer a série, é sua.” Na época, o projeto ainda estava em desenvolvimento; era “The Crown”.
Comecei a trabalhar na série em 2015 e fui ficando na Inglaterra entre as temporadas. Ainda consegui fazer mais dois filmes diferentes e também participei da primeira temporada de “Andor”.
Londres acabou se tornando o lugar onde me sinto mais à vontade profissionalmente. Desde 2010, vi essa indústria crescer muito, não apenas pela quantidade de projetos que vêm para cá, mas também pela infraestrutura. Existem diversos estúdios em construção e expansão neste momento, inclusive os da Warner Bros., onde estou trabalhando.
Sempre esteve nos seus planos seguir uma carreira internacional?
Acredito que tudo começou no ano em que assisti a dois filmes que me marcaram profundamente como cinéfilo: “Blade Runner” e “Paris, Texas”. Fiquei completamente impactado com a amplitude de gênero e possibilidades que percebi naquela forma de arte.
A partir dali, quis contar histórias em outras línguas e sonhava em ir para Los Angeles. Passei a assistir muito cinema, estudei intensamente e comecei a entender quem era quem dentro das produções. Isso influenciou diretamente minhas escolhas: na época das locadoras, eu buscava os filmes no formato VHS com base em quem havia assinado a fotografia. Se eu gostava de um filme específico, procurava acompanhar a carreira daquele diretor de fotografia, muitas vezes mais do que a do próprio diretor.
Foi (e continua sendo) muito trabalho. Realmente muitas horas da minha vida foram passadas em sets de filmagem, em viagens, em produções intensas. Por isso, embora eu considere um grande privilégio tudo o que está acontecendo hoje, também tenho plena consciência de que trabalhei bastante para chegar até aqui.
Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira?
Com certeza foram os filmes brasileiros que fiz e que adoro profundamente, como “O ano em que meus pais saíram de férias”, “Xingu” e “Dos Homens”, além de tantos outros projetos realizados com grandes amigos dos estúdios da Conspiração e da O2.
Mas “Sin Nombre”, que fiz em 2007, foi realmente um divisor de águas. A partir desse filme, comecei a acreditar que poderia ter uma carreira internacional. Logo após o longa, passei a ter uma agente (a mesma com quem trabalho até hoje), e isso também me ajudou bastante. Esse filme me rendeu um prêmio no Festival de Cinema de Sundance, então comecei com o pé direito.
O primeiro episódio de “The Crown” que dirigi mudou muita coisa na minha carreira. Os episódios que fotografei e que ganharam prêmios também foram especiais – em particular o episódio “Beryl”, da segunda temporada, pelo qual recebi um Emmy, um BAFTA e um prêmio da ASC (American Society of Cinematographers), todos no mesmo ano.
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao longo da carreira?
No início, foi difícil entender que falar inglês é uma coisa, mas discordar conceitualmente e debater em outro idioma é algo mais complexo. Essa articulação levou um tempo para se desenvolver.
Ao mesmo tempo em que eu enfrentava essas dificuldades, fiquei muito focado e determinado a superar esses desafios. Queria que minha opinião fosse ouvida e validada, e busquei ter confiança de que estava expressando minhas ideias de maneira clara e compreensível.
O sotaque é algo que no início parece importar – e, em alguns momentos, você realmente sente que importa. Eu trabalho com uma equipe formada por ingleses, um australiano e um escocês. Entre eles, eu sou a pessoa com sotaque.
Ainda há a questão de como se impor. No meu trabalho, ocupo a posição de Head of Department. É um cargo que exige bastante exposição. Minha voz precisa ser ouvida diversas vezes ao longo do dia, de forma clara e firme. E isso, de fato, não é fácil. Mas fui avançando aos poucos, e as coisas começaram a dar certo.
Como surgiu sua paixão pelo cinema?
Meu pai era arquiteto e, em algum momento da adolescência, cheguei a querer seguir a mesma profissão. Depois, comecei a me interessar por oceanografia, porque adorava os documentários do Jacques Cousteau. Foi através deles que, pela primeira vez, percebi a existência de uma equipe por trás das imagens. Ele filmava a própria equipe pegando as câmeras, mergulhando, e então me dei conta: alguém está registrando tudo isso que gosto tanto de assistir.
Sempre gostei muito de cinema. Na mesma fase da adolescência, também fui muito cinéfilo. Frequentava a Mostra de Cinema de São Paulo e assistia a muitos filmes em casa, em VHS.
Acabei optando por cursar jornalismo, em vez de cinema, mas no terceiro ano da faculdade parei para começar a trabalhar na Olhar Eletrônico, uma produtora bastante efervescente de São Paulo, na década de 1980. A partir daí, entrei no universo da televisão e não parei mais.
Como começou sua carreira na direção de fotografia?
Em 1996, voltei para o Brasil depois de trabalhar em um projeto em Portugal. Já atuava com televisão e fui para lá fazer uma sitcom. Quando retornei, a MTV estava em plena ascensão no Brasil e tomei uma decisão: não queria mais ser diretor, queria ser diretor de fotografia.
O caminho estava se desenhando para que eu me tornasse diretor, pois havia trabalhado na Olhar Eletrônico, tinha sido assistente de direção e já estava ganhando algum dinheiro com isso. Mas percebi que não era o que eu queria.
Então, ao voltar de Portugal, decidi seguir como diretor de fotografia. Comecei a fazer muitos videoclipes com uma geração de diretores da minha idade, com quem eu tinha bastante afinidade. Foi o melhor laboratório para um diretor de fotografia.
Como você avalia essa trajetória até aqui?
Acho que tive a sorte, e fiz a escolha certa, de seguir como diretor de fotografia, e não como diretor. O que mais gosto nessa função é poder trabalhar com tantas mentes criativas, com diretores diferentes, metodologias distintas, em lugares diversos. Isso enriquece muito a experiência.
Tenho também a sorte enorme de contar com uma família que sempre compreendeu o fato de que eu viajaria muito. Sempre foram muito tolerantes e amorosos. Sempre tive um lugar para voltar. Hoje, todos estão comigo, morando em Londres.
O mercado audiovisual brasileiro tem crescido, com cada vez mais profissionais almejando trabalhar em grandes produções, inclusive fora do país. Que conselho você daria para quem quer seguir carreira como diretor de fotografia e conquistar espaço em projetos internacionais?
É fundamental gostar muito do que se faz, ler o roteiro com atenção e, de certa forma, entender que você é o seu próprio marketing. Sempre fui freelancer, e para mim o mais importante foi manter as portas abertas, fazer com que as pessoas queiram trabalhar com você novamente. A colaboração, na minha visão, é a melhor forma de sustentar relações dentro dessa indústria.
Sabemos que existem muitos casos de profissionais que são rudes, extremamente vaidosos e arrogantes: diretores de fotografia, diretores, atores. Não é o meu estilo. Tenho uma forma diferente de trabalhar.
Quando me perguntam se há um segredo, não acho que exista uma fórmula única para todos. Mas acredito que ter paixão pelo que se faz, e entender o funcionamento da indústria, é essencial.
Ao longo da carreira, surgirão oportunidades para trabalhar em projetos mais autorais, menores ou maiores, nos quais a sua veia artística será mais requisitada. E, em outros casos, os fatores determinantes serão o tempo, o orçamento e a pressão do estúdio. Você pode decidir não participar desses projetos, é uma escolha. Eu já experimentei todos esses contextos, com a Netflix, com a Disney e, agora, com a Warner. Gosto da pressão, mas sei que não é algo que agrada a todo mundo.
Você tem mais algum projeto ou sonho que pretende realizar nos próximos anos?
Tenho amigos queridos com quem gostaria muito de filmar novamente. O Stephen Daldry, por exemplo, é um deles. Também o Fernando Meirelles e o Paulo Morelli, do Brasil, e o Ben Caron, com quem trabalhei em “The Crown” e com quem tive uma parceria muito boa.
Tenho vontade de fazer mais longas-metragens e séries por um tempo ainda. Mas acredito que o mais importante, neste momento, é poder contar boas histórias.
Faz sentido, agora, considerar a possibilidade de participar de mais uma ou duas temporadas de “Harry Potter”, o que, no total, representaria um compromisso de cerca de três anos. Existe a perspectiva de sete temporadas para a série. Não sei se estarei em todas, mas certamente há uma longa jornada pela frente. Vamos ver como as coisas se desenrolam.
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Negócios
Vagas de Emprego em Aberto e Contratações nos EUA Diminuem em Junho

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
As vagas de emprego em aberto e as contratações nos Estados Unidos diminuíram em junho em meio a quedas acentuadas no setor de serviços de hospedagem e alimentação, apontando para uma desaceleração ainda maior na atividade do mercado de trabalho.
As vagas em aberto, uma medida da demanda de mão de obra, caíram em 275 mil, para 7,437 milhões no último dia de junho, informou o Departamento do Trabalho em sua pesquisa Jolts nesta terça-feira. Economistas consultados pela Reuters previam 7,50 milhões de empregos não preenchidos.
As contratações caíram em 261 mil, para 5,204 milhões, em junho. A incerteza sobre onde os níveis tarifários acabarão por se estabelecer deixou as empresas hesitantes em aumentar as contratações. Isso ficou evidente no alto número de pessoas que recebem auxílio-desemprego.
As vagas de emprego em serviços de alojamento e alimentação diminuíram em 308 mil, enquanto as contratações no setor caíram em 106.000. Esse setor tem sido um dos motores do crescimento do emprego.
No entanto, os empregadores não estão demitindo trabalhadores em grande escala após as dificuldades de encontrar mão de obra durante e após a pandemia da Covid-19. As demissões caíram em 7 mil, para 1,604 milhão no mês passado.
Uma pesquisa da Reuters coam economistas aponta que o relatório de emprego do governo, a ser divulgado na sexta-feira, provavelmente mostrará que foram abertos 102.000 empregos fora do setor agrícola em julho, de 147.000 em junho. A previsão é de que a taxa de desemprego aumente para 4,2%, de 4,1% em junho.
Economistas preveem que o Federal Reserve vai manter sua taxa de juros de referência na faixa de 4,25% a 4,50% na quarta-feira, apesar da pressão do presidente Donald Trump para reduzir os custos dos empréstimos.
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