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O Preço de se Destacar: O Que a Psicologia Diz Sobre a Síndrome da Papoula Alta no Trabalho

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

O sucesso deveria ser algo a ser comemorado. No ambiente de trabalho, ele geralmente é medido por promoções, prêmios ou reconhecimento. É assim que se percebe que todo o esforço e ambição finalmente estão dando resultado.

No entanto, para muitos, alcançar o topo pode vir com um custo inesperado. Em vez de serem aplaudidas, muitas pessoas enfrentam a ira silenciosa daqueles que ressentem seu sucesso, tentam miná-las ou fazem com que se sintam socialmente excluídas.

Esse fenômeno é conhecido como “síndrome da papoula alta”, onde aqueles que “crescem demais” são cortados para se igualarem aos demais. O termo foi inicialmente identificado na Austrália e Nova Zelândia, mas o fenômeno já foi documentado em ambientes de trabalho ao redor do mundo.

Não se trata apenas de inveja casual. A síndrome da papoula alta penaliza quem se destaca e parte da ideia de que essas pessoas devem ser punidas por seu sucesso, e não recompensadas, para que permaneçam “pequenas”.

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O Relatório “A Papoula Mais Alta”

Embora o termo já seja amplamente debatido, um estudo emblemático trouxe dados concretos para jogar luz sobre as experiências vividas por mulheres que se destacam no trabalho.

O relatório The Tallest Poppy é um projeto de pesquisa internacional liderado pela Dra. Rumeet Billan, em parceria com a organização Women of Influence+. Tornou-se o maior estudo do tipo, reunindo relatos de milhares de mulheres profissionais que foram “cortadas” ao se destacarem no ambiente corporativo.

Os resultados mostram claramente que a síndrome da papoula alta pode afetar qualquer pessoa, mas atinge as mulheres de forma mais profunda e prejudicial.

Mais de 4.700 pessoas de 103 países foram entrevistadas para examinar como a saúde mental, o bem-estar, o engajamento e a performance de mulheres são afetados por colegas, líderes e clientes em resposta ao seu sucesso.

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O relatório insere a síndrome da papoula alta em um contexto mais amplo de desigualdades enfrentadas pelas mulheres no trabalho, desde processos seletivos enviesados e disparidades salariais até barreiras estruturais ao avanço profissional.

“Em um emprego anterior, um ex-presidente do meu departamento disse que minhas conquistas e trabalho duro faziam os outros parecerem ruins”, compartilhou uma participante.

Esse tipo de relato faz ainda mais sentido no contexto da Grande Renúncia, quando inúmeras mulheres decidiram deixar seus empregos. Algumas relataram dificuldades em conciliar trabalho e cuidado com a família durante a pandemia. Outras mencionaram exaustão por serem mal remuneradas, ignoradas ou sobrecarregadas em empresas inflexíveis. Embora muitas tenham retornado ao mercado, a lacuna permanece, o que evidencia a necessidade urgente de mudanças estruturais.

Quem Está “Cortando” as Papoulas?

As descobertas do estudo revelam o quanto a síndrome da papoula alta molda as experiências femininas no trabalho.

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Muitas mulheres relataram ter sido “cortadas”, ações que variam desde reter informações e minimizar conquistas até formas mais explícitas de bullying e exclusão.

E essas agressões vêm de várias direções: não apenas de chefes, mas também de colegas e até clientes.

Um estudo de 2011 investigou como mulheres reagem a outras mulheres que consideram mais bem-sucedidas ou admiráveis. O estudo, com 40 mulheres brancas, mostrou que muitas recorriam a estratégias negativas de comunicação, como críticas, fofocas ou atitudes de desvalorização.

Isso sugere que a dinâmica entre mulheres no ambiente corporativo pode ser influenciada por competitividade e comparação social, gerando comportamentos prejudiciais contra colegas de alto desempenho.

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Como resultado, muitas mulheres vivem um paradoxo: quanto mais sucesso alcançam, mais enfrentam agressões. Em vez de reconhecimento, recebem inveja, exclusão e desprezo. O sucesso, assim, torna-se um fator de risco psicológico.

Esse padrão tem custos tanto pessoais quanto organizacionais. Embora pareça afetar apenas o bem-estar individual, pode ter impacto direto na produtividade e retenção de talentos.

“Me prometeram uma promoção para a diretoria, mas depois disseram que eu era ambiciosa demais e não me promoveram. Agora estou desmotivada, envergonhada e buscando outro emprego”, relatou outra participante.

O Custo de Ser “Cortada”

O relatório mostra como a síndrome da papoula alta afeta diretamente a performance das mulheres. Muitas relataram que passaram a se desengajar de projetos, evitar falar em reuniões ou esconder conquistas para não despertar ressentimento.

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Um estudo de 2018 analisou o impacto de ambientes tóxicos em sete universidades privadas no Paquistão. Foram avaliadas quatro dimensões: ostracismo, grosseria, assédio e bullying. Todos esses comportamentos tiveram efeito negativo direto na produtividade, e levaram ao esgotamento emocional, agravando ainda mais a queda de desempenho.

Assim, o estudo reforça a necessidade de empresas eliminarem tais práticas, protegendo o bem-estar dos funcionários e melhorando os resultados organizacionais.

Muitas mulheres também relataram que falar sobre suas experiências não trouxe apoio, mas sim mais isolamento. Algumas foram chamadas de sensíveis demais; outras temiam retaliação ou danos à reputação. Esse silêncio perpetua o ciclo e dificulta o enfrentamento do problema.

Além do impacto na carreira, os efeitos se estendem à saúde mental e à autoestima. Para algumas, isso resultou em retraimento. Para outras, burnout e a decisão de sair do emprego.

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Repense Sua Reação ao Sucesso dos Outros

A forma como você reage às conquistas dos colegas afeta sua própria sensação de pertencimento. Ser consumido por inveja ou adotar comportamentos maldosos só gera isolamento e perda de confiança.

Por outro lado, celebrar o sucesso alheio é um antídoto poderoso. Ao reconhecer genuinamente as conquistas de outra pessoa, você reforça a ideia de que também será apoiado quando chegar a sua vez. A celebração é um sinal de mentalidade de abundância, não de escassez.

Um estudo de 2022 investigou como celebrações, como aniversários, promoções e conquistas, contribuem para o bem-estar. Os pesquisadores descobriram que essas celebrações aumentam a sensação de apoio social percebido, algo essencial para a resiliência e segurança emocional.

Seja sendo celebrado ou celebrando alguém, os benefícios são reais. Isso também nos torna mais propensos a ajudar os outros e retribuir.

Sucesso Não Deve Ser Um Peso

A lição final é clara: cortar os outros só aprofunda a solidão. Em vez de ver o sucesso de um colega como ameaça, veja como prova de que é possível para todos.

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Para as mulheres, essa mudança de perspectiva é ainda mais importante. Apoiar e elevar umas às outras é uma forma poderosa de resistir à cultura de corte. Quando mulheres apoiam mulheres, criam um ambiente onde todas podem crescer juntas.

Se você estiver sendo “cortada”, lembre-se: a reação dos outros diz mais sobre as inseguranças deles do que sobre o seu valor.

Em vez de se esconder, procure aliados que celebrem suas vitórias com você. Documente suas contribuições para que fiquem visíveis. E, acima de tudo, proteja sua confiança: o desconforto dos outros pode ser apenas uma evidência de que você está fazendo algo digno de atenção.

O sucesso não deve ser um fardo. Você sobe mais alto quando também deixa espaço para que outros brilhem. Assim, o sucesso é compartilhado, não temido.

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* Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.

 

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