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“Fear of Switching Off”: por que profissionais não se desconectam nas férias

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homem trabalhando nas férias deitado numa rede em frente ao mar
Getty Images

Dificuldade de tirar férias e se desligar totalmente do trabalho é ainda maior para empreendedores, que têm na mão as principais decisões da empresa

Se as férias um dia significaram um momento de descompressão e desconexão com o trabalho, a realidade hoje é outra. O FOSO (Fear of Switching Off, ou o medo de se desligar) atinge profissionais de todo o mundo – americanos, europeus e também brasileiros. Uma pesquisa global mostra que 61% dos brasileiros ficam ainda mais estressados e ansiosos quando se desconectam do celular e do trabalho, e não conseguem relaxar durante as férias.

O estudo encomendado pelo Priority Pass, programa que dá acesso a lounges em aeroportos em todo o mundo, e realizado pela empresa global de pesquisa Dynata, entrevistou mais de 8 mil pessoas em 13 países e revelou o comportamento dos viajantes em seus períodos de férias.

Entre as principais preocupações está o medo de perder mensagens importantes, principalmente sobre o trabalho. “As pessoas têm muito medo de não acompanharem o dia a dia e serem pegas de surpresa na volta das férias”, diz Christopher Evans, CEO da Collinson International, operadora do Priority Pass.

Para Luís*, gerente de projetos de uma multinacional de tecnologia, é difícil aproveitar os momentos de folga sem pensar no que vai encontrar depois. “Fico ansioso e tento antecipar alguns temas pelo celular para que seja menos correria depois. O trabalho fica acumulado e os prazos não mudam.”

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Apesar disso, a pesquisa mostra que a estabilidade de um emprego permite que os profissionais se desconectem com mais facilidade. 26% das pessoas empregadas consideram fácil se desconectar de assuntos de trabalho durante as férias e 48% desse grupo não acompanha e-mails e aplicativos de mensagens relacionadas a trabalho nesse período.

Em relação ao tempo de férias, cerca de 20% dos entrevistados brasileiros acreditam que precisam de três a quatro semanas para se sentirem totalmente relaxados. Para os estrangeiros, o período ideal de férias é de, no máximo, duas semanas.

Empreendedor não tem férias

A situação é ainda pior quando se analisa o perfil dos empreendedores – 41% se mantêm disponíveis para o trabalho durante viagens e acreditam ser praticamente impossível se desconectar por mais de meia hora dos seus celulares. “O ônus de empreender é não conseguir se desconectar”, diz Ricardo Onofre, CEO da Social Digital Commerce.

Os dados vão na contramão da ideia de que o empreendedorismo permite maior flexibilidade na agenda. “Eles acabam acumulando funções e dão a palavra final em determinadas situações, por isso ficam conectados de forma ainda mais intensa”, observa Evans, CEO da Collinson International.

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Para Callebe Mendes, fundador e CEO da fintech Zapay, tirar férias é ainda mais difícil no início do negócio. “Os desafios e os problemas continuam e é essencial que eles sejam resolvidos”, afirma, sugerindo que o empreendedor tenha pequenos momentos de descanso. “Costumo dizer que o empreendedor tem que ser acostumado a trabalhar 24×7”.

A importância de tirar férias

Com o aumento do trabalho remoto e híbrido, as linhas entre a vida pessoal e profissional ficaram cada vez mais tênues, tornando difícil para as pessoas desligar completamente. “O WhatsApp virou uma ferramenta para fazer a gestão do dia a dia. A tecnologia e a digitalização facilitam muitas coisas, mas dificultam a desconexão”, diz Douglas Salvador, CEO e fundador do Clube do Malte, que se desconectou totalmente do trabalho pela última vez em 2010, em uma viagem a Cuba, onde não tinha internet.

Apesar de o híbrido ser a maneira preferida de trabalhar dos funcionários e estar associado a um melhor bem-estar e equilíbrio, os dados sugerem que esse modelo pode ser mais emocionalmente desgastante do que o trabalho totalmente remoto ou no escritório.

Estratégias para se desconectar e curtir as férias sem culpa

Mesmo quando as pessoas tiram uma folga, metade delas admite levar seus notebooks de trabalho nas férias e 41% participam de videochamadas, o que as deixa ainda mais exaustas.

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O que quer que esteja por trás dessa dificuldade em se desconectar, não é sustentável para funcionários e empresas. Além de poder enfrentar consequências de saúde graves, profissionais com o mental abalado são menos produtivos e criativos.

É por isso que os empregadores que valorizam seus funcionários – e os resultados da empresa – devem fazer de tudo para incentivá-los a fazer uma boa pausa. Quando as pessoas conseguem recarregar totalmente, elas retornam ao trabalho com um “senso renovado de energia e propósito, o que aumenta sua produtividade e motivação”, diz Kevin Cashman, autor de “The Pause Principle: Step Back to Lean Forward” (“O Princípio da Pausa: Um passo atrás para ir adiante”, em tradução livre).

Além disso, é muito melhor para as empresas apoiar e reter os seus talentos do que gastar tempo, dinheiro e esforço para contratar e treinar alguém novo.

*O nome foi ocultado para proteger a identidade do entrevistado.

Fonte: Forbes Brasil.

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